segunda-feira, 15 de julho de 2013

Deus chama o seu povo a uma audiência

O tempo dos milagres tinha passado com Elias e Eliseu. O cativeiro babilônico era apenas uma amarga lembrança dos seus antepassados. As reformas efetuadas por Neemias já estavam caindo no esquecimento. A rotina das cerimônias religiosas era continuada, mas sem entusiasmo. Era um tempo de apatia, de sonolência espiritual. Tanto a liderança como o povo estava vivendo um torpor espiritual.
A mensagem de Malaquias é atualíssima para a igreja hoje.

1. O mensageiro

O nome Malaquias significa mensageiro de Deus. Por isso, alguns estudiosos entenderam que ele Malaquias era um pseudônimo e não um nome. A LXX traduz: “angelou autou” = meu anjo.
Orígenes defendeu a tese de que ele era um anjo de Deus, trazendo uma mensagem de Deus para o povo.
Jerônimo e Calvino defenderam a tese de que Malaquias era um pseudônimo de Esdras.
Cremos, entretanto, firmados na maioria dos estudiosos, que Malaquias não é um pseudônimo, mas o nome do profeta. Ele era um personagem histórico. Obadias e Habacuque também não têm genealogia descrita.

2. O tempo

Alguns estudiosos colocam Malaquias antes de Esdras. Outros, colocam-no no período entre a ausência de Neemias e seu segundo governo em Jerusalém, visto que Malaquias trata dos mesmos problemas que Neemias enfrentou, quando de seu retorno da Pérsia: sacerdócio corrompido, retenção dos dízimos, casamento misto. Cremos, entretanto, que Malaquias profetizou logo depois do período de Neemias. No tempo de Malaquias o templo já havia sido reconstruído. O culto, entretanto, estava sendo oferecido com desleixo: tanto o sacerdócio como o povo estava em profunda letargia espiritual. O povo estava vivendo um grande ceticismo. Cremo, assim, que Malaquias vem logo depois de Neemias, e isso, por algumas razões:
a) O estado espiritual de geral decadência é incompatível com a firme liderança espiritual de Neemias. As condições descritas por Malaquias sugerem uma deterioração que surgiu depois da eliminação da influência de Esdras e Neemias. Havia frieza espiritual e culto insincero. Havia ritual, mas não vida nos cultos.
b) No tempo de Neemias a infidelidade não era generalizada nem do sacerdócio nem do povo, mas no tempo de Malaquias sim.
c) Nem Neemias faz referência a Malaquias, nem Malaquias a Neemias.
3. O estilo
No ensino de Malaquias é fundamental o conceito de aliança. Deus se chama de Pai e trata Israel como seu filho (1:6; 3:17).
Malaquias usa um estilo de confronto poderoso, como Deus se estivesse chamando o seu povo para um confronto no tribunal. Nessa audiência divina, há três expedientes:
a) Afirmação;
b) Interrogação;
c) Refutação.
Esse tipo de confronto é apresentado no livro 8 vezes (1:2; 1:6; 1:7; 2:14; 2:17; 3:7; 3:8; 3:13).
Do começo ao fim esse pequeno livro é um APELO – um apelo ao arrependimento do pecado e volta a Deus (1:6; 2:10; 3:7; 3:10; 4:4).
Malaquias pode ser considerado o mais argumentativo livro de todo o Antigo Testamento.

I.A MENSAGEM SOLENE DE DEUS – v. 1

1. A natureza da mensagem – v. 1
A mensagem de Malaquias é uma sentença, um fardo, um peso. Não é uma mensagem consoladora, mas de profundo confronto e censura. Essa mensagem era um peso:
a) Para o profeta
b) Para o povo
c) Para Deus.
A palavra “sentença” masâ, peso significa mais do que uma palavra da parte do Senhor. É algo pesado, duro, que o Senhor vai dizer. É um peso para o coração do profeta (Jr 4:19), para o coraçãol do povo e para o coração de Deus. Não é uma mensagem palatável, azeitada, fácil de ouvir.
Estamos também com sérias deficiências na nossa espiritualmente. Precisamos ouvir a masâ de Deus.
Os dois principais males de sua época eram o formalismo e o ceticismo. Vemos neles os primórdios do farisaísmo (formlaismo) e do saduceísmo (ceticismo). Como essas duas coisas ainda nos prejudicam hoje.
2. A autoridade da mensagem – v. 1
A mensagem é “uma sentença pronunciada pelo Senhor. A mensagem não é criada pelo profeta, mas apenas transmitida por ele. A mensagem vem de Deus, é do céu.
O pregador não gera a mensagem. O sermão não é palavra de homem, mas palavra de Deus.
Calvino entendia que o púlpito é o trono a partir do qual Deus governa o seu povo com sua Palavra.
3. O destino da mensagem – v. 1
Malaquias entrega uma sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel. O juízo começa pela Casa de Deus. Deus antes de julgar o mundo, julga o seu povo.
Israel alegrava-se quando Deus julgava as nações ao seu redor, mas não aceitou quando Deus trouxe julgamento sobre eles.
Quando o povo da aliança desobedece, Deus envia a vara da disciplina.
4. O instrumento da mensagem – v. 1
Há uma sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquias. Deus levanta homens para pregar não o que eles querem pregar, não o que o povo quer ouvir, mas o que Deus ordena falar.
A mensagem de Deus não tem o propósito de agradar os ouvintes, mas de salvá-los.

II. O AMOR ELETIVO DE DEUS – v. 2 

1. É um amor declarado 
a) O amor de Deus por seu povo é um amor deliberado
O amor de Deus pelo povo é imutável (3:6). Era como o amor de um esposo pela esposa (2:11) ou de um pai pelo filho (1:6; 3:17).
Deus não nos amou por causa das virtudes que viu em nós (Os 11:1). A causa do amor de Deus está nele mesmo e não em nós. Deus escolheu Israel não porque era a maior ou a melhor nação. Jesus disse: “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15:16).
Deus escolheu Jacó antes dele nascer. Deus não nos elegeu: 1) Porque previu que iríamos crer – A fé não é a causa da eleição, mas consequência (At 13:48); 2) Porque viu em nós boas obras – Fomos eleitos para as boas-obras e não por causa delas (Ef 2:10); 3) Porque viu em nós santidade – Deus nos escolheu para a santidade e não por causa da santidade (Ef 1:4); 4) Porque viu em nós obediência – Fomos eleitos para a obediência e não por causa da obediência (1 Pe 1:2).
b) O amor de Deus por seu povo é um amor paciente
Deus amou Jacó, mas ele foi um homem enganador: ele enganou o irmão, mentiu para o pai.
Muitas vezes o povo de Deus voltou-se contra Deus, provocou Deus a ira. Mas Deus nunca desamparou o seu povo. Tratou-o como um Pai trata o seu filho.
De igual modo, Deus é paciente conosco hoje. Mesmo que sejamos infiéis, ele permanece fiel!
c) O amor de Deus por seu povo é um amor triunfante
O amor de Deus por seu povo é um amor contínuo. Ele não disse: “eu vos amei” nem disse: “Eu vos amo”, mas disse: “Eu vos tenho amado”. O amor de Deus pelo seu povo nunca cessou. Deus ama com um amor eterno (Jr 31:3). Deus prova o seu amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós pecadores (Rm 5:8).
Israel afastou-se de Deus. Matou os profetas de Deus. Fechou o coração para Deus. Então, Deus o enviou ao cativeiro, mas Deus o tirou do cativeiro, restaurou-lhe a sorte. A graça de Deus é maior do que o nosso pecado. Israel ainda é o povo da aliança. Deus não desiste de nós. Aquele que começou a fazer boa obra em nós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus!
2. É um amor questionado – v. 2 
a) Insensibilidade ao amor de Deus
A raiz do pecado do povo é a insensibilidade ao amor de Deus. Isso produz dúvida, impiedade e relaxamento moral. Eles deixaram de ver a providência divina. Deixaram de ouvir a Palavra de Deus. Eles foram disciplinados, mas não viram nisso o amor do Pai, ao contrário, sentiram-se injustiçados.
O pecado sempre encontrará uma porta aberta, aonde o amor de Deus é colocado em dúvida.
b) Ingratidão ao amor de Deus
Apesar da declaração e das evidências do amor de Deus por Israel, eles ainda perguntam: “Em que nos tem amado?” A ingratidão tem os olhos fechados para a benevolência recebida. Quantas vezes, nós também, questionamos o amor de Deus. Quantas vezes, ferimos o coração de Deus, com uma atitude de rebeldia e ingratidão (Sl 78:9-17).
O povo de Israel achava certo que Deus julgasse Edom. Mas achava injusto que Deus o julgasse. É sempre mais cômodo apelar para o juízo divino contra os outros.
3. É um amor demonstrado – v. 2 
a) Pela escolha soberana
Deus escolheu Jacó. Deus escolheu Israel. “Tão somente o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar: a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os povos” Dt 10:15).
Deus escolheu-nos soberanamente. A eleição é um ato da livre graça de Deus. Ele nos escolheu antes dos tempos eternos (2 Tm 1:9). Ele nos escolheu quando não tínhamos nenhum mérito. Ele nos escolheu em Cristo.
b) Pela proteção amorosa
Deus livrou Jacó, salvou Jacó, abençoou Jacó. Formou um povo, libertou o povo, guiou o povo. Deu-lhe provisão, proteção, a lei, uma terra, uma missão.
c) Pela restauração milagrosa
Deus tirou o povo do Egito. Deus guiou o povo no deserto. Deus colocou o povo na terra da promessa. Deus lhes deu sua Palavra. Deus lhes enviou profetas. Deus os disciplinou em sua rebeldia. Deus os trouxe de volta do cativeiro. Deus os restaurou.

III. O JULGAMENTO SOLENE DE DEUS – v. 3-4

1. Esaú rejeita sua primogenitura – Gn 25:34; Hb 12:16
Esaú não dava valor às coisas espirituais. Ele preferia satisfazer seu apetite do que dar importância às coisas de Deus. Ele trocou seu direito de primogenitura por um prato dse lentilhas. Toda a história subsequente da descendência de Esaú se explica pelo sistem de valores dele.
Deus jamais predestinou Esaú a ser um réprobo. Deus jamais predestinou o pecado.
2. Esaú era impuro e profano – Hb 12:16-17
Esaú era um homem entregue à impiedade e perversão, ou seja, profano e impuro. Ele desprezava as coisas de Deus. Por isso, era capaz de chorar querendo a bênção, mas jamais se arrependeu sinceramente (Hb 12:17).
3. Os descendentes de Esaú, os edomitas seguiram seu caminho – Nm 20:14-21
Eles não deixaram Israel passar pelo seu território. Eles perseguiram o povo de Deus. Eles se colocaram na contra-mão da vontade de Deus.
4. Os descendentes de Esaú, os edomitas associaram-se com a Babilônia para matar o povo de Deus – Ob 10-14; Jl 3:19; Sl 137:7 
a) Saquearam Jerusalém junto com os caldeus (Ob 11,13).
b) Olhou com prazer a calamidade de Israel (Ob 12; Sl 137:7).
c) Pararam nas encruzilhadas para matar os que tentavam fugir (Ob 14).
d) Entregaram à Babilônia alguns que tentavam fugir (Ob 14).
5. Os descendentes de Esaú foram também saqueados pelos nabateus, árabes logo depois do cativeiro babilônico – Ob 15,18,21; Ml 1:3-4
Setenta anos depois que Jerusalém caiu nas mãos da Babilônia com ajuda dos edomitas, os nabateus, invasores do deserto varreram o território edomita, obrigando sua população a se refugiar no Neguebe, ao sul de Judá. Seu país, mais tarde conhecido como Iduméia, tinha por capital Hebrom.
O mal feito dos edomitas caiu sobre suas próprias cabeças. Ao perseguirem o povo de Deus, tocaram na menina dos olhos de Deus.
6. Os descendentes de Esaú, os edomitas, nunca foram restaurados – v. 4
A grande prova do amor de Deus por Israel é que igualmente Israel pecou. Igualmente Israel foi levado para o cativeiro. Mas Deus restaurou Israel e não restaurou Edom. Para Edom não houve restauração. Veja o contraste entre Ml 1:2 e 1:4.
Ainda que Edom queira reconstruir sua cidade à parte de Deus, Deus não o permitirá.
a) Os esforços do ímpio são dirigidos por propósitos errados (v. 4) – Os edomitas querem reconstruir sem Deus.
b) Os esforços do ímpio são conduzidos por espírito errado (v. 4) – retornaremos e reedificaremos (Babel).
c) Os esforços do ímpio estão edificados sobre um fundamento errado (v. 4) – A terra de Edom será sempre uma terra de perversidade. A ira de Deus está sempre ardendo contra eles. A providência divina tanto restaura como derruba (Ec 3:3). O juízo de Deus é terrível (desolada) e irrevogável (irado para sempre).

IV. A GRANDEZA UNIVERSAL DE DEUS – v. 5 
1. A grandeza de Deus é vista em seus graciosos atos com Israel, seu povo
a) Deus elegeu;
b) Deus protegeu;
c) Deus disciplinou;
d) Deus restaurou.
2. A grandeza de Deus é vista em seu julgamento às nações
Deus não age apenas na vida do seu povo, nem apenas na igreja. Deus não é propriedade da igreja. Ele não é uma divindade tribal. Ele é o Senhor do universo. Ele age em todo o mundo. Ele julga as nações.
A soberania de Deus não se limita ao seu povo. Se Israel olhasse mais ao seu redor, reconheceria melhor o amor de Deus, e veria como Deus fora maravilhoso com eles, em contraste com as experiências de outras nações.
Israel precisa ver e anunciar a grandeza de Deus em toda a terra.

CONCLUSÃO 

Este texto enseja-nos algumas lições práticas:
1. A sentença de Deus é deveras pesada
Precisamos escolher entre o peso de glória ou o pesa da ira.
Deus disse por intermédio de Amós: “De todas as famílias da terra somente a vós outros vos escolhi, portanto eu vos punirei por todas as vossas iniquidades” (Am 3:2).
2. O amor de Deus é deveras benigno
O amor de Deus é verdadeiro ainda quando disciplina o seu povo. O viticultor castiga a vinha, podando seus ramos para obter mais uvas.
É uma triste prova da nossa depravação que o amor de Deus é menos confessado, onde ele é mais manifesto (v. 2).
3. O soberano e eterno propósito de Deus é o único fundamento de seu favor a nós
A salvação depende do amor eletivo de Deus. O que deve nos espantar é o fato de Deus ter nos escolhido para ele!
4. O amor de Deus pelo seu povo nem sempre é correspondido
A ingratidão fere o coração de Deus, embora não apague o amor de Deus.
5. O poder do homem jamais pode reverter a sentença de Deus
É Deus quem edifica e quem derruba. Quando Deus edifica ninguém derruba; quando Deus derruba, ninguém edifica.
6. Deus será glorificado no julgamento do pecado como na recompensa da obediência

A glória de Deus é manifesta na salvação do seu povo e também na condenação dos ímpios que o rejeitam. Tanto o céu como o inferno devem manifestar a glória de Deus.
Fonte: Rev. Hernandes Dias Lopes

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