“Querida, em qual igreja iremos hoje?”. Esse
diálogo tem se tornado comum antes da família sair para o culto no final de
semana. Faz-se uma rápida avaliação do sermão do domingo anterior e também do
momento de adoração e rapidamente chega-se a conclusão: é melhor buscar uma
outra opção, uma nova comunidade. Afinal, a família não se sentiu satisfeita e
decide encontrar outro local, já que as opções na cidade onde vivem são as mais
diversas. Encontrarão igrejas tradicionais, com forte ênfase na ministração da
Palavra e numa liturgia mais formal. Se desejarem, também poderão optar por
comunidades emergentes, contextuais e que não estão presas a tantos
formalismos. Com facilidade acharão algumas igrejas que, por seu número grande
de frequentadores, entrarão e sairão sem ser notados, o que, para alguns, é
excelente.
Para completar essa lista de escolhas, esse
menu contempla lugares onde apenas ouvirão alguns recados para lhes dar um novo
ânimo para a semana que vai começar. Uma palestra que abordará algo que
funcionará como um tranquilizante psicótico. Basta escolher. Opções não faltam.
É importante lembrar que nem sempre foi
assim. Trata-se de um fenômeno relativamente recente. Nossa história de
protestantismo brasileiro tem pouco mais de 150 anos, mesmo tendo acontecido
incursões missionárias em terras brasileiras bem antes disso. Sempre fomos
considerados minoria. E uma minoria que foi estigmatizada e até mesmo
perseguida. A partir da década de 80 teve início um processo de crescimento
numérico inusitado dos evangélicos brasileiros. Como resultado, proliferou-se a
plantação de novas igrejas, especialmente nas grandes metrópoles e cidades do
interior de nossos estados. O resultado é que hoje devemos ter mais de 200.000
templos evangélicos no Brasil.
Tornou-se comum encontrar várias igrejas
evangélicas próximas uma das outras, as vezes numa mesma quadra. Resultado: nos
tornamos um povo nômade, sem igreja fixa e consequentemente promotores daquilo
que poderíamos chamar da anti-missão de Deus.
A plantação de novas igrejas deveria sempre
passar pela visão daquele que compreendeu claramente a missão: “sempre fiz
questão de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que
não estivesse edificando sobre alicerce de outro.” (Rom.15:20).
Essa passagem bíblica usualmente é
compreendida como estratégia missionária. Concordo, em parte. Ela fala muito
mais sobre um dos valores do Reino de Deus: justiça. É justo oferecermos a
possibilidade a muitos hoje de escolherem a qual igreja ir enquanto outros,
também criados à imagem e semelhança de Deus, não tem nenhuma comunidade cristã
ao redor deles?
Dando uma palestra recentemente em uma das
grandes capitais do Brasil, passei de relance nesse assunto. Uma das pessoas
que me ouvia, surpreendentemente, me interrompeu e bradou em alta voz: “Isso
não é justo!”. Tive que parar o meu discurso, pois aquele homem foi tomado por
uma santa indignação e continuou a exclamar a mesma frase várias vezes.
A missão que Deus colocou em nossas mãos
passa obrigatoriamente em alcançar os pobres, os excluídos, os perseguidos, os
injustiçados e tantos outros que hoje vivem em cidades do mundo sem a esperança
de uma vida digna e eterna em Cristo. Essa missão tem a tarefa de incluir aqueles
que hoje não tem escolhas de qual igreja devem ir no próximo final de semana,
pois elas simplesmente inexistem.
Antes de buscar as estratégias corretas na
plantação de novas igrejas avalie se é justo as escolhas de domingo de tantos
cristãos brasileiros. Lembre-se que alguém, em algum lugar, ainda está sem uma
igreja acessível e, portanto, sem nenhuma escolha a fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário