quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

As Nossas Escolhas de Domingo

“Querida, em qual igreja iremos hoje?”. Esse diálogo tem se tornado comum antes da família sair para o culto no final de semana. Faz-se uma rápida avaliação do sermão do domingo anterior e também do momento de adoração e rapidamente chega-se a conclusão: é melhor buscar uma outra opção, uma nova comunidade. Afinal, a família não se sentiu satisfeita e decide encontrar outro local, já que as opções na cidade onde vivem são as mais diversas. Encontrarão igrejas tradicionais, com forte ênfase na ministração da Palavra e numa liturgia mais formal. Se desejarem, também poderão optar por comunidades emergentes, contextuais e que não estão presas a tantos formalismos. Com facilidade acharão algumas igrejas que, por seu número grande de frequentadores, entrarão e sairão sem ser notados, o que, para alguns, é excelente.

Para completar essa lista de escolhas, esse menu contempla lugares onde apenas ouvirão alguns recados para lhes dar um novo ânimo para a semana que vai começar. Uma palestra que abordará algo que funcionará como um tranquilizante psicótico. Basta escolher. Opções não faltam.

É importante lembrar que nem sempre foi assim. Trata-se de um fenômeno relativamente recente. Nossa história de protestantismo brasileiro tem pouco mais de 150 anos, mesmo tendo acontecido incursões missionárias em terras brasileiras bem antes disso. Sempre fomos considerados minoria. E uma minoria que foi estigmatizada e até mesmo perseguida. A partir da década de 80 teve início um processo de crescimento numérico inusitado dos evangélicos brasileiros. Como resultado, proliferou-se a plantação de novas igrejas, especialmente nas grandes metrópoles e cidades do interior de nossos estados. O resultado é que hoje devemos ter mais de 200.000 templos evangélicos no Brasil.

Tornou-se comum encontrar várias igrejas evangélicas próximas uma das outras, as vezes numa mesma quadra. Resultado: nos tornamos um povo nômade, sem igreja fixa e consequentemente promotores daquilo que poderíamos chamar da anti-missão de Deus.

A plantação de novas igrejas deveria sempre passar pela visão daquele que compreendeu claramente a missão: “sempre fiz questão de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edificando sobre alicerce de outro.” (Rom.15:20).

Essa passagem bíblica usualmente é compreendida como estratégia missionária. Concordo, em parte. Ela fala muito mais sobre um dos valores do Reino de Deus: justiça. É justo oferecermos a possibilidade a muitos hoje de escolherem a qual igreja ir enquanto outros, também criados à imagem e semelhança de Deus, não tem nenhuma comunidade cristã ao redor deles?

Dando uma palestra recentemente em uma das grandes capitais do Brasil, passei de relance nesse assunto. Uma das pessoas que me ouvia, surpreendentemente, me interrompeu e bradou em alta voz: “Isso não é justo!”. Tive que parar o meu discurso, pois aquele homem foi tomado por uma santa indignação e continuou a exclamar a mesma frase várias vezes.

A missão que Deus colocou em nossas mãos passa obrigatoriamente em alcançar os pobres, os excluídos, os perseguidos, os injustiçados e tantos outros que hoje vivem em cidades do mundo sem a esperança de uma vida digna e eterna em Cristo. Essa missão tem a tarefa de incluir aqueles que hoje não tem escolhas de qual igreja devem ir no próximo final de semana, pois elas simplesmente inexistem.

Antes de buscar as estratégias corretas na plantação de novas igrejas avalie se é justo as escolhas de domingo de tantos cristãos brasileiros. Lembre-se que alguém, em algum lugar, ainda está sem uma igreja acessível e, portanto, sem nenhuma escolha a fazer.

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