“E disse-lhes: "Desejei ansiosamente comer esta
Páscoa com vocês antes de sofrer”(Lucas 22.15).
A espiral do ciclo litúrgico traz de volta a semana das dores e da paixão de
Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Na verdade, para nós, cristãos
reformados, a vivência da experiência da cruz é uma realidade cotidiana, fomos
e estamos sendo crucificados com Cristo na medida em que morremos para o
pecado, a injustiça e a ostentação do mundo. Todavia, não há mal algum em
aproveitarmos estes momentos mais intensos para não só aprofundarmos a nossa
consciência quanto aos fatos que importaram em nossa salvação, mas também para
proclamarmos a essência da mensagem evangélica, a gratuidade da morte do
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
As narrativas da Paixão que encontramos nos Evangelhos, além de
sensibilizarmo-nos e dar-nos informações de como as coisas aconteceram, trazem
lições que devem ser sempre atualizadas em nossa caminhada de fé.
A semana começa com o domingo da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. É o
“domingo de ramos”. Jesus entra aclamado em Jerusalém como Rei-Messias, o Filho
de Davi, o que cumpre em filigrana as profecias: “Alegra-te muito, ó filha de
Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e
Salvador, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho, filho de
jumenta” (Zc 9.9). Contudo, o alarido da multidão e aquele reconhecimento
eufórico não traduzem a sua missão. Sua decisão de ir a Jerusalém continha
outro programa a ser vivido: “E aconteceu que, completando-se os dias para a
sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém” (Lc 9.51), isto
é, cumprir o projeto de seu Pai, dar a vida por suas ovelhas, resgatar os
pecadores e estabelecer o reinado de Deus e voltar glorioso para junto daquele
que o enviara.
Depois desta entrada triunfal, entre os “hosanas” de um povo festivo, Jesus
vive a amarga noite da última ceia. A atmosfera dos Evangelhos parece carregada
de tensão. A dor e a melancolia da despedia. A conversão dos valores arraigados
ao orgulho humano nas lições do lava-pés e o prenúncio da morte. A nova Aliança
com base no sangue derramado, a angústia do horto e finalmente a traição por
parte de um de seus discípulos amigos. Desta quinta-feira quis o Espírito Santo
conservar-nos preciosas lições. Que o amor cristão só tem sentido se for
insistente, permanente e independente das inclinações de nossa carne. Um amor
que persevera, não recua, que não desiste, mesmo quando tudo conspira ao redor.
Que o amor não é um simples sentimento, mas um mandamento e um serviço de
humildade e gratuidade. Aprendemos que o discipulado não é turismo religioso,
mas seguir a Jesus significa um convite para morrer com Ele e com Ele entregar
a vida em obediência ao Pai e em favor dos irmãos.
Chegamos à “sexta-feira da paixão” e da morte do inocente, justo e santo Filho
de Deus. Dos horrores vividos na casa de Anás, à submissão a um político fraco
e corrupto, à patética aparição na casa de Herodes, a troca por Barrabás em um
Tribunal iníquo e à exposição pública a caminho do Calvário, Jesus deu provas
cabais de quem era: “o homem das dores”, o Servo de Iaweh, o Justo das
Escrituras, o Messias esperado pelas nações, a Ovelha muda que não abriu a boca
diante dos seus tosquiadores. Jesus revelou-se como o verdadeiro cordeiro
pascal, o suficiente bode da expiação e em sua carne macerada e em seu
sofrimento não só tornou aceitável, mas confirmou todos os sacrifícios
prescritos na Lei, enquanto bebia até a última gota do cálice. Mas, o que
continha mesmo o cálice que o Pai serviu a Jesus? Continha a ira de um Deus
Santíssimo e Justo, ofendido em sua majestosa autoridade que vindicava justiça
desde a Queda de Adão. Na sexta-feira, Jesus paga o preço de nossa dívida: “e
cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era
contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Cl 2.14).
Segundo a teologia dos pais da Igreja de Tradição Oriental, aqui se realiza a
propriamente dita páscoa do cristão, pois é quando o verdadeiro cordeiro é
sacrificado: “Mas quando chegaram a Jesus, percebendo que já estava morto, não
lhe quebraram as pernas. Ele sabe que está dizendo a verdade, e dela testemunha
para que vocês também creiam. Estas coisas aconteceram para que se cumprisse a
Escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado" (Jo 19.33-36).
O meu desejo é que você evite a todo custo, motivado por um zelo cego quanto
aos exageros litúrgicos de outras religiões, o pecado de desprezar esta
oportunidade de viver e anunciar o cerne do Evangelho da Salvação que como se
vê, custou um alto preço! Participe com alegria das reuniões, cultos e estudos
de sua comunidade de fé.
Fonte: ultimatoonline
Fonte: ultimatoonline
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