Baruque era contemporâneo do profeta Jeremias. Era seu
escriba, porta-voz e amigo. Foi ele quem escreveu a primeira e a segunda edição
do livro que registra tudo o que Deus disse a Jeremias a respeito de Israel e
de outras nações, na época anterior à destruição de Jerusalém pela Babilônia,
nos anos 600 antes de Cristo. Jeremias ditava e Baruque escrevia. Foi também
Baruque quem leu o livro em voz alta, duas vezes, primeiro para o povo reunido
no templo e, depois, para um seleto grupo de líderes em lugar mais reservado.
Depois da privilegiada oportunidade de escrever e tornar conhecido o conteúdo
do livro, Baruque teve uma crise depressiva muito forte e desabafou: “Ai de
mim! O Senhor acrescentou tristeza ao meu sofrimento. Estou exausto de tanto
gemer, e não encontro descanso” (Jr 45.3).
Não é difícil entender o problema emocional de Baruque. Ele teve experiências
muito chocantes em seu ministério ao lado de Jeremias. Ambos esperavam, como
consequência da leitura do livro, que o rei e o povo se convertessem de sua má
conduta e, então, recebessem o perdão do Senhor. Aconteceu o contrário: quando
o livro era lido pela terceira vez, agora na presença do rei Jeoaquim, em seu
palácio de inverno, “cada vez que Jeudi terminava a leitura de três ou quatro
colunas, o rei cortava com uma faquinha aquele pedaço do rolo e jogava no fogo
[...] até que o rolo inteirinho virou cinzas” (Jr 36.23-24, NTLH).
Além do mais, Baruque chorava porque corria risco de vida, porque estava por
dentro das iniquidades praticadas pelo povo, porque tinha conhecimento do juízo
de Deus prestes a se abater sobre o povo e porque ele próprio estava ao alcance
das desgraças que se sucederiam, mesmo não participando da corrupção
generalizada.
Baruque não era o único a se queixar de exaustão. Alguns de seus contemporâneos
faziam o mesmo: “Estamos exaustos e não temos como descansar” (Lm 5.5). A
exaustão emocional dói mais que a exaustão física, e a exaustão espiritual dói
ainda mais. Baruque agiu como os outros agiram: derramou a sua alma perante o
Senhor. O desabafo sincero é o ralo por onde se escoam as lágrimas.
O consolo de Deus é estranho, mas funciona. A cura que ele opera não é
superficial. Deus não apenas oferece o lenço para o sofredor enxugar as
lágrimas, como também ensina a pessoa a lidar com os problemas da vida. Baruque
queria ser uma exceção. Como muitos crentes de hoje, sob a alegação de que são
“filhos do Rei”, o escriba queria ir para uma sala VIP, queria uma espécie de
salvo-conduto, esconder-se dentro de uma redoma onde pudesse se proteger da
famosa tríade (guerra, fome e peste) que estava assolando a nação e encontrar
água e comida à vontade e por muito tempo. Todavia, Deus lhe perguntou: “Será
que você está querendo ser tratado de modo diferente?” (Jr 45.5, NTLH).
A mágica de Deus nem sempre é retirar o espinho na carne no momento em que nós
o desejamos, mas tornar mais abundante e mais suficiente a sua graça (2 Co
12.7-10). Naquele momento histórico, era necessário “arrancar, despedaçar,
arruinar e destruir” a nação pecadora (Jr 1.10). Posteriormente, porém, depois
da humilhação e da quebra da cerviz dura, Deus estaria disposto a reverter o
quadro, reedificar o que havia derrubado e replantar o que havia sido arrancado
(Jr 31.4, 28, 40). Baruque não teria uma redoma para se proteger, mas Deus o
deixaria escapar com vida onde quer que ele fosse, em meio às ameaças e às
desgraças da guerra, da fome e da peste (Jr 45.5).
Fonte: Revista Ulttimato
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