“Viveremos dores diferentes, de formas diferentes, em
momentos diferentes, porém vivemos dias de dores”.
Estava pronto para começar a escrever este artigo, quando
meu telefone tocou. Resultado: mudança de planos. Mais um momento difícil na
jornada ministerial, encontrar gente com lágrimas nos olhos, tristeza na alma,
buscando encontrar sentido diante da terrível dor do luto. Quando entrei no
ambiente vejo três filhos ao redor de sua mãe, nos últimos momentos antes do
sepultamento. Na saída, encontro um dos filhos com lágrimas nos olhos dizendo:
“tá doendo”.
Se o amor é a maior fonte de prazer da vida, perder alguém
que amamos pode ser a maior fonte de dor e tristeza. O meu objetivo neste
artigo não é falar sobre a morte, é apenas reforçar a ideia de que na caminhada
ministerial encontraremos gente que vai dizer que “tá doendo” e permitir que
essas pessoas tenham condições de viver sua dor em Deus, é o nosso papel.
Vivemos um tempo de mensagens triunfalistas, nos parece
que ao recebermos o evangelho, tomamos um anestésico para dor existencial, a
nossa alma está proibida de entristecer-se. Este modelo de vida cristã nega a
humanidade de cada um de nós, levando a uma vida infernal, pois o bom mesmo é
ser gente, é ser homem, é chorar quando precisar chorar, é dizer que dói quando
está doendo, é simplesmente ser gente. A igreja brasileira precisa de uma
teologia para dor, não é uma teologia sem dor.
Ao escrever este artigo, me vem à memória a vida de John
Bunyan, preso durante 12 anos. Como outros santos sofredores antes dele e até
hoje. Bunyan achou a prisão um presente doloroso de Deus em sua vida. Joseph
Stalin, preso no campo de concentração russo disse: “Dos meus anos de prisão,
com as costas curvadas, que quase se quebraram debaixo do seu fardo, foi-me
permitido levar esta experiência essencial: como um ser humano se torna mau e
como se torna bom. Na intoxicação dos sucessos juvenis, senti que era
infalível, portanto eu era cruel. No excesso de poder, fui um assassino e
opressor. Nos meus momentos malignos, eu estava convencido de que estava bem, e
estava muito bem suprido de argumentos sistemáticos. Foi somente quando estava
lá, jogando na palha apodrecida da prisão, que senti dentro de mim os primeiros
movimentos do bem. Gradualmente me foi mostrado que a linha que separa o bem do
mal não passa por estados, nem entre classes, nem mesmo partidos políticos, mas
através de cada coração humano. É por isto que, retornando aos anos do meu
aprisionamento, digo, algumas vezes, para surpresa dos que estão ao meu redor:
Bendita sejas, a prisão! Eu servi ali e digo sem hesitação: Bendita sejas
prisão, por ter sido parte de minha vida”.
O sofrimento faz parte da vida cristã, viveremos dores
diferentes, de formas diferentes, em momentos diferentes, porém viveremos dias
de dores. A dor não poderá nos conduzir a uma negação da fé, pelo contrário, a
dor pode nos conduzir a Ele, nos permitindo ver seu consolo, sua compaixão, seu
amor. Creio que no vocabulário cristão temos a permissão de dizer: “TÁ
DOENDO!”.
Fonte: sepal.org
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