Os cristãos estão vivendo tempos difíceis.
Descontentamento, decepção, desconforto, desencorajamento, desespero,
depressão, divórcio, discórdia, desdém, desgosto, dissensão e desobediência são
bastante comuns entre os que foram chamados para dar testemunho da glória de
Deus e para refletir a imagem de Cristo. Muitos cristãos têm buscado
conselheiros profissionais e psicólogos para ajudá-los a resolver os problemas
da vida, mas esses problemas parecem estar aumentando.
Os "consumidores" cristãos carregados de
problemas também podem escolher entre uma grande quantidade de produtos:
livros, conferências e grupos de autoajuda – mas os problemas continuam se
multiplicando.
Quanto mais se trata dos problemas, mais as pessoas se
tornam centradas neles. Até aqueles que tentam resolver os problemas da vida
com princípios bíblicos, muitas vezes acabam se envolvendo tanto nesses
problemas que não alcançam a raiz da dificuldade real. O tratamento dos
problemas frequentemente alcança somente os sintomas superficiais, apenas
substituindo-os por outros sintomas. Alguns cristãos vivem de crise em crise.
Outros carregam um peso que parece ficar mais e mais pesado com o passar dos
anos.
Nunca houve tantos livros disponíveis para os cristãos na
sua busca da família perfeita, do casamento perfeito e da vida perfeita. Não
obstante, muitos cristãos falham em refletir a imagem de Cristo em sua família,
no casamento e na vida. Será que as dificuldades que os cristãos enfrentam
estão relacionadas com o fato deles estarem vivendo naqueles tempos difíceis
sobre os quais Paulo alertou a Timóteo? "Sabe, porém, isto: nos últimos
dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas..." (2 Tm
3.1-2). A Edição Revista e Corrigida diz: "Sabe, porém, isto: que nos
últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si
mesmos..."
As pessoas estão perecendo por causa do amor – do amor a
si próprias. Elas foram ensinadas pelos especialistas modernos em psicologia
que deveriam amar a si mesmas. Elas ouviram que, a menos que se amassem elas
não poderiam amar aos outros. Pregadores e outras pessoas bem-intencionadas
fizeram ecoar as palavras: "você precisa se amar". Conselheiros e
televangelistas insistiram: "Ame-se! Goste de si mesmo! Honre-se! Você
merece!" Cada vez mais essas tentações de autocomiseração ou exaltação do
ego são sutil e facilmente aceitas pelas pessoas, pois o coração é enganoso
(Jr. 17.9).
Mas, observe o que procede de pessoas que são
"amantes de si mesmas". Esses homens "egoístas" são: "avarentos,
jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos,
irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si,
cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos
prazeres que amigos de Deus" (2 Tm 3.2-4).
Uma rápida observação das palavras que seguem
"amantes de si mesmas" revela um estado de vida bastante pecaminoso,
assim como atitudes e atos pecaminosos. Tal amor a si próprio é tão poderoso
que os "amantes de si mesmos" são "mais amigos dos prazeres que
amigos de Deus". E isso está em profunda contradição com o Grande
Mandamento: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a
tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O
segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt
22.36-39).
Enquanto que os propagadores do amor a si próprio tentam
ler um terceiro mandamento (ame-se a si mesmo) nessa passagem das Escrituras,
Jesus deixou claro que estava falando de apenas dois mandamentos, pois disse: "Destes
dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas" (Mt 22.40). Não há nas
Escrituras um mandamento para amar a si mesmo.
Os homens são infelizes e sofrem com os problemas da vida
porque se tornaram "amantes de si mesmos" e "mais amigos dos
prazeres que amigos de Deus". A inclinação pecaminosa do ser humano é amar
a si mesmo mais do que a Deus e às outras pessoas. O egoísmo se agarra à
natureza humana e produz inveja, luxúria, orgulho, arrogância, desrespeito por
Deus, desobediência aos pais, falta de gratidão, engano, provocando tanto a
paixão pelos seus próprios caminhos quanto a contenda por causa deles. Ele leva
também a falsas acusações, que são exageradas, já que as pessoas têm sido
encorajadas a culpar seus pais, as circunstâncias, e a qualquer outra coisa,
menos a si mesmas, pela sua condição de vida.
Será que as pessoas estão tentando desenvolver-se,
melhorando a si mesmas e às circunstâncias em que vivem, sem tocar na raiz do
problema? Será que o amor a si próprio está escondido sob os mais benevolentes
gestos e por trás das orações mais fervorosas? Que tipo de crescimento pessoal
as pessoas estão procurando? O crescimento pessoal que vai aumentar sua
auto-estima, ou o crescimento pessoal que envolve negar a si mesmo e tomar a
sua cruz? O crescimento pessoal que vai confirmar o valor de seus próprios
egos, ou o que as tornará semelhantes à imagem de Cristo?
Ambas as formas de crescimento, tanto a que se inclina
para o amor a si mesmo quanto a que se inclina para amar a Deus, têm um custo
elevado. Amar a si mesmo mais do que amar a Deus leva a uma perda espiritual,
mas amar a Deus com todo o seu ser leva a negar o "eu" e faz com que
o efeito mortal da cruz se faça sentir contra o velho homem (aquele
"eu" ao qual muitos de nós ainda estão agarrados e amam), que deve
ser considerado morto (Rm 6).
Jesus disse: "Se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a
sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará. Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano
a si mesmo?" (Lc 9.23-25).
O mesmo Deus que salva e santifica também ordenou que as
boas obras sejam uma conseqüência natural da Sua obra: "Porque pela graça
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras,
para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus
para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas" (Ef 2.8-10). Essas boas obras incluem amar a Deus de todo o
coração, de toda a alma, de todo o entendimento e a obediência a Ele, pois o
amor a Deus é expresso obedecendo-Lhe e amando-se uns aos outros. Uma pessoa
não é salva nem se santifica pelas boas obras. Entretanto, as boas obras são
conseqüência do que Deus já fez e continua a fazer. Por isso, Paulo diz: "Assim,
pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém,
muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar,
segundo a sua boa vontade" (Fp 2.12-13).
Além disso, todas essas coisas devem ser feitas sem
murmurações nem contendas (Fp 2.14), ou seja, sem reclamar ou discutir com Deus
sobre as circunstâncias da vida e como proceder na presença dEle.
Por toda a caminhada cristã há o despojar-se dos velhos
caminhos (do velho homem com suas paixões enganosas) e o revestir-se do novo
homem, "criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade" (Ef 4.24).
Essa é a caminhada diária do cristão. Despojar-se do
velho homem é o equivalente a negar a si mesmo, e revestir-se do novo homem
envolve tomar sua cruz e seguir a Cristo.
Se bem que muitos cristãos podem concordar em princípio,
quantos estão fazendo isso diariamente, momento após momento? Quantos de nós
estão confiando no Senhor o suficiente para tomarmos a nossa cruz,
reconhecendo-O em todos os nossos caminhos e deixando-O afastar-nos do
amor-próprio para amá-lO de todo o coração, de toda a alma, de todo o
entendimento e de toda a força, amando-nos uns aos outros tanto quanto nós já
nos amamos a nós mesmos? Cada dia é cheio de oportunidades para amar a Deus ou
para amar o "eu" em primeiro lugar. Qual vamos escolher? Martin e
Deidre Bobgan, traduzido por Jarbas
Aragão - http://www.apaz.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário