No terceiro céu está à pátria
celestial, o destino final de todos os filhos de Deus. Com ajuda do último
livro da Bíblia, o Apocalipse, participe comigo de uma visita guiada pelo
templo celestial, a “casa do Pai”.
Você já esteve no terceiro
céu? A Bíblia fala de vários céus, a começar pela atmosfera, que vemos como céu
azul. O segundo céu é o cosmo, o espaço sideral, o céu astral. Durante a
inauguração do templo de Salomão, o sábio rei disse: “Mas, na verdade,
habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem
conter; quanto menos esta casa que edifiquei!” (1Re 8.27). Aqui se faz
diferenciação entre os céus (em hebraico: shamayim)e o céu dos céus (em
hebraico: shemey hashamayim). O céu azul e o espaço sideral não podem
conter a Deus. Deus está presente em toda a criação, sendo, portanto, imanente,
mas também é transcendente, pois o mundo presente não pode contê-lO.
A Bíblia ainda conhece um terceiro céu. Em 2 Coríntios
12.2-4, Paulo explica que foi arrebatado ao Paraíso, também chamado por ele de
“terceiro céu”. Muitos já estiveram no primeiro céu, mas provavelmente nenhum
dos leitores esteve no segundo. Essa possibilidade é muito recente na história
da humanidade. Em 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin foi o primeiro ser
humano a chegar ao segundo céu, a bordo da “Vostok I”. Depois da sua volta, ele
relatou: “Estive no céu, mas não vi a Deus”. Nem poderia, pois ele esteve
apenas no segundo céu. A moradia de Deus é no terceiro céu; e, aliás, como
alguém poderia vê-lO com o coração impuro? No Sermão do Monte, o Senhor Jesus
disse: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt
5.8). Esse é um problema para todos nós, pois temos corações impuros. Por
isso, por natureza não temos direito ao terceiro céu.
A pátria celestial
A Bíblia fala sobre a Jerusalém celestial, o Monte Sião e
a pátria celestial: “Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é nossa
mãe” (Gl 4.26). Fala-se aqui de uma cidade real no terceiro céu. Hebreus
11.10 diz sobre Abraão: “...porque esperava a cidade que tem os
fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é Deus”. No versículo 16, o
autor fala dos patriarcas: “Mas agora desejam uma pátria melhor, isto é, a
celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu
Deus, porque já lhes preparou uma cidade”.Temos aqui o segundo termo: a pátria
melhor, a pátria celestial. Em Hebreus 12.22, o autor da carta aos judeus
crentes diz: “...mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus
vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos”. Este Monte Sião
celestial, a Jerusalém celestial, tem grande significado para o cristianismo. A
carta aos Hebreus dirige-se a cristãos judeus, mas também o Apocalipse fala da
“nova Jerusalém” (no capítulo 21) como uma descrição simbólica da Igreja de
Deus. Em Apocalipse 21.2,9ss. é explicado ao apóstolo João que a nova Jerusalém
é a noiva do Cordeiro, a Igreja de Jesus. Mas a “Jerusalém celestial”, de que
falam as cartas aos Gálatas e aos Hebreus, é uma cidade real no céu, um símbolo
da Igreja. Por isso, a descrição da nova Jerusalém no Apocalipse não tem um
significado puramente simbólico. O arquétipo da Igreja como a nova Jerusalém é
essa cidade celestial. A descrição simbólica no Apocalipse está relacionada à construção
concreta da nova Jerusalém.
O templo no céu
Em Apocalipse 11.19 a Bíblia fala explicitamente de um
templo no céu: “Abriu-se o santuário de Deus que está no céu...”. No
Seu discurso de despedida, na véspera da crucificação, o Senhor Jesus chamou esse
templo celestial de “casa do meu Pai” (Jo 14.2). A expressão aparece
mais uma vez na Bíblia, em João 2. Mas ali o Senhor Jesus trata do templo em
Jerusalém. Em João 14, a expressão refere-se a uma realidade celestial, o
templo no céu como arquétipo da construção na terra. O templo em Jerusalém era
uma cópia terrena, e a Igreja de Jesus é, finalmente, o cumprimento do símbolo.
Isso vale tanto para o templo quanto para a cidade. O Senhor Jesus fala a
respeito em João 14.2-3: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não
fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos
preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu
estiver estejais vós também”. Essas moradas na casa do Pai estão no templo
celestial, pois são, de certa forma, moradas de sacerdotes, que no templo em
Jerusalém ficavam abrigados junto à “Casa da Lareira”, bem próxima do Santo dos
Santos.
Em Apocalipse 6.9-11, os mortos por causa da Palavra
estão junto ao altar no céu. Entendemos que as almas dos mortos estão no templo
celestial, e assim é possível compreender muito melhor algumas coisas. Em Lucas
23, Jesus diz ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Onde
era esse paraíso? No terceiro céu, no local do templo celestial, da cidade
celestial e da pátria celestial. Qual é o livro que nos dá as melhores
informações sobre o céu? Em nenhum outro encontramos tantas quanto no último
livro da Bíblia. Por quê? O Apocalipse nos mostra para onde estamos indo. O
primeiro livro da Bíblia (Gênesis) nos mostra de onde viemos, e o último, para
onde vamos. Nunca conseguiríamos descobrir isso por nós mesmos. Não há métodos
científicos que nos ajudem a descobrir como o mundo se formou. Não temos como
voltar ao início. Também não há métodos que nos permitam ir para o futuro, a
fim de vermos o que está pela frente. Precisamos da revelação divina sobre
essas questões básicas.
Uma visita ao templo celestial
Em Apocalipse 4.1, João vê primeiro uma porta aberta no
céu. Essa porta não estava se abrindo naquele momento, ela já estava aberta. Em
Ezequiel 1, o profeta vê o céu se abrindo diante de seus olhos. São duas
situações diferentes. No Apocalipse, o céu já está aberto, pois estamos na
época depois do Gólgota: “O céu está aberto, coração, sabes por quê? Porque
Jesus lutou e sangrou – por isto!”
João entrou no céu e ouviu uma voz como de trombeta, ou
seja, de um shofar, que também será ouvida por ocasião do
Arrebatamento (veja 1Ts 4), quando o Senhor descerá com a trombeta de Deus.
Lidamos com um céu aberto! Quando João entra no céu, ele
vê o Cordeiro de Deus:“Nisto vi, entre o trono e os quatro seres viventes, no
meio dos anciãos, um Cordeiro em pé, como havendo sido morto” (Ap 5.6).Só que
esse Cordeiro imolado está vivo. É o Senhor Jesus no céu, e nós ainda veremos
as marcas da cruz nEle – no Seu lado, em Suas mãos e em Seus pés. Mas o
contexto é grandioso – o céu aberto e o Cordeiro que foi morto! No Talmude
Babilônico o tratado Tamid 30b fala sobre a abertura matutina da porta de Nicanor.
Essa majestosa porta, que levava do átrio das mulheres ao acampamento da Shekinah (a
glória de Deus), era tão pesada que só podia ser aberta pelo esforço conjunto
de vários sacerdotes. Essa porta abria-se no momento em que o sacrifício
matinal era imolado por volta das seis horas. Também o acesso ao céu só é
possível porque o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus, foi morto por nós. João
entrou no céu e ouviu uma voz como de trombeta, ou seja, de um shofar, que
também será ouvida por ocasião do Arrebatamento (veja 1Ts 4), quando o Senhor
descerá com a trombeta de Deus. De acordo com 1 Coríntios 15.51ss., essa é a
última trombeta. O exército romano tinha três trombetas. A primeira
significava: “Levantar acampamento!” A segunda trombeta comandava: “Em forma!”
A terceira e última trombeta era o sinal para marchar. A voz como de trombeta
que João escutou dizia: “Sobe aqui”, e ela corresponde ao chamado do
Arrebatamento, da última trombeta. O sinal para a marcha não está relacionado
às sete trombetas do juízo, que só soarão mais tarde.
O altar do holocausto e seu serviço
O apóstolo João entrou diretamente no Santo dos Santos, o
coração do céu. Mas faremos nossa viagem pela ordem, começando no átrio dos
sacerdotes, o “acampamento da Shekinah”, como diz a literatura rabínica. É lá
que está o altar do holocausto: “Quando [o Cordeiro] abriu o
quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa
da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamaram com grande
voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o
nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um deles
compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda por um pouco de
tempo, até que se completasse o número de seus conservos, que haviam de ser
mortos, como também eles o foram” (Ap 6.9-11). João vê no céu o Cordeiro
de Deus, que é digno de abrir o Livro de Deus, selado com sete selos.
Não devemos nos esquecer que os acontecimentos no céu
acontecem simultaneamente com o terrível juízo futuro sobre o mundo. O
Apocalipse descreve a guerra do templo celestial contra uma humanidade afundada
no pântano do pecado. Esse livro bíblico relata uma guerra de Deus contra o
mal, a guerra do santuário celestial contra a humanidade que rejeitou o
sacrifício de Cristo. O templo no céu é essencialmente o local da reconciliação
e do sacrifício vicário. Mas quando a humanidade rejeita esse sacrifício, vem o
juízo, e assim tudo no céu que se refere a salvação e reconciliação se transformará
em maldição para os habitantes da terra.
Lemos que João viu o altar do holocausto no céu, e as
almas ao pé dele. O sangue é a essência da vida, pois Levítico 17.14 diz: “Porque
a vida da carne está no sangue”. Na época do Segundo Templo, o sangue dos animais
sacrificados era derramado ao pé do altar, para dentro de duas cavidades
especiais, que ficavam perto do canto sudoeste. É justamente nesse ponto que
João vê as almas dos mortos – no local para onde corria o sangue dos
holocaustos. Essas almas estão plenamente conscientes, apesar de se tratar de
mártires no céu. Elas podem falar, e falam de vingança. É óbvio que já estamos
na época posterior ao Arrebatamento. Hoje ainda vivemos na época da graça, mas
depois do Arrebatamento vem a época do juízo, e então esses mártires exigirão
vingança. João vê-os junto ao altar, e eles recebem vestimentas sacerdotais,
porque ainda precisam esperar algum tempo. Essas almas são de pessoas que,
depois do Arrebatamento, estavam dispostas a entregar tudo em favor do Senhor
Jesus, inclusive de sofrer o martírio. Mas o que esses fatos celestiais têm
para nos ensinar? O altar mostra que o Senhor Jesus entregou tudo por nós. As
almas ao pé do altar são, portanto, as pessoas que dizem: “Se nosso Redentor
pode dar tudo, nós também estamos dispostos a entregar tudo”. Mesmo que sejamos
poupados do martírio, deveria valer para nós o lema de 2 Coríntios 5: “Pois
o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos,
logo todos morreram; e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam
mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (vv.14-15). Não
vivemos mais para nós mesmos, mas para Cristo! O altar no céu demonstra que o
Senhor Jesus se dispôs a entregar tudo em sacrifício.
No fim das contas, o judaísmo é totalmente “cristão”, já
que o seu templo é uma cópia do original do céu, o lar dos cristãos (Fp 3.20).
O Apocalipse também menciona sete taças de ouro em
conexão com o altar. Tratam-se dos cálices usados no templo durante os sacrifícios.
Esses cálices terminavam em forma de ponta na parte inferior, pois os
sacerdotes não podiam depositá-los em lugar nenhum. Eles tinham de coletar o
sangue nas taças e levá-lo ao altar. Esse sangue não podia ser depositado, e
por isso as taças tinham este formato peculiar. Mas o que acontece em
Apocalipse 16 em relação a essas sete taças? “O segundo anjo derramou a
sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreu todo ser
vivente que estava no mar. O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas
fontes das águas, e se tornaram em sangue” (vv.3-4). As taças do sacrifício,
que na verdade tratavam de reconciliação, transformam-se em juízo para o mundo!
Vale aqui novamente o princípio: quando alguém não aceita, ou até mesmo rejeita
o sacrifício de Jesus, só resta a essa pessoa tornar-se ela mesma um
holocausto.
Quando o Apocalipse fala das sete trombetas, a linguagem
usada também estabelece uma relação com o altar, pois diariamente eram tocadas
sete trombetas durante os holocaustos matutinos e vespertinos. Isso também é
relatado no Talmude Babilônico, no tratado Sucá 53b. As sete trombetas estão
ligadas ao sacrifício vicário no templo, mas no Apocalipse tornam-se sinais do
juízo para aqueles que não quiseram aceitar esse sacrifício. Quando lemos os
textos do Apocalipse sob esse ângulo, obtemos um perfil bem diferente. Em última
instância, vemos que o Apocalipse é um “livro do templo”, já que o templo
caracteriza o céu. Disso também podemos concluir que o céu é muito “judaico”.
Provavelmente, esse fato surpreenderá muitos cristãos na sua chegada ao céu.
Mas também podemos dizê-lo de outra forma: no fim das contas, o judaísmo é
totalmente “cristão”, já que o seu templo é uma cópia do original do céu, o lar
dos cristãos (Fp 3.20).
A pia e o canto dos levitas
Em nossa caminhada pelo terceiro céu chegamos agora à
pia: “E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham
vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao
mar de vidro, e tinham harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de
Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras,
ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei
dos séculos. Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só
tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti,
porque os teus juízos são manifestos” (Ap 15.2-4). Não existe oceano no
templo celestial. Em 1 Reis 7.23, a palavra “mar” designa o “mar de bronze”, a
grande pia no átrio do templo. O hebraico rabínico usa essa expressão também
para um recipiente coletor, por exemplo, para farinha. Aqui o mar designa a
pia. Mas por que se fala de um “mar de vidro, misturado com fogo”? Tanto no
tabernáculo quanto no Templo de Salomão a pia era de bronze, uma liga de cobre.
Quando o bronze era especialmente bem trabalhado, ele ficava parecido com um
espelho. Na época de Moisés as mulheres entregaram seus espelhos de bronze para
que a pia fosse confeccionada a partir deles (Êx 38.8). O arquétipo celestial
dessa pia é tão perfeito que parece de vidro. “Misturado com fogo” – o que
significa isso? Quando a luz celestial é refletida no bronze finamente
trabalhado dessa pia, surge um jogo de luzes e sombras que lembra labaredas de
fogo.
Junto à pia diante do templo João vê Aquele que derrotou
a besta, o ditador vindouro, a sua imagem e o número do seu nome, isto é, a
idolatria na qual a humanidade será jogada pelo Anticristo. Depois do
Arrebatamento, quando o Anticristo instituir um novo sistema financeiro, todos
os habitantes da terra receberão um código aplicado em sua mão direita ou na
fronte. O número 666, oculto no código, expressará o seguinte: “Estou disposto
a honrar este ditador, a besta que saiu do mar, como deus”. Aqueles que não o
aceitarem não receberão o código. Mas naquela época não haverá mais dinheiro
vivo, e só será possível fazer pagamentos por meio do código. O que acontecerá
quando alguém não puder mais comprar ou vender? O que fazer? Orar! A situação
ficará muito precária, e a única oração possível será: “O pão de cada dia
nos dá hoje”. O que significa essa oração para nós atualmente, se já temos
na geladeira provisões para as próximas duas semanas? A situação das pessoas
depois do Arrebatamento será tão precária que essa oração adquirirá um novo
significado. Aliás, a palavra “precário” deriva do verbo em latim “precari”,
donde vem a palavra “prece”*. As pessoas junto à pia no átrio do templo
celestial chegam ao céu vindas de uma situação precária, isto é, do martírio.
Elas trazem as harpas de Deus, apresentando-se assim como músicos e cantores
levitas e entoando o cântico de Moisés e do Cordeiro. O apóstolo João entendeu
imediatamente o significado. Encontramos o cântico do Cordeiro em Êxodo 15.
Trata-se do cântico que os israelitas entoaram depois da primeira ceia da
Páscoa e da saída do Egito, durante a passagem pelo mar. O cântico de Moisés
está em Deuteronômio 32.4:“Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque
todos os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniquidade; justo e reto é
ele”. Por isso, os vencedores cantam no céu: “Grandes e admiráveis
são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os
teus caminhos, ó Rei dos séculos”. Na época do Segundo templo, esse
cântico de Moisés era entoado no momento do sacrifício vespertino do sábado,
enquanto o cântico do Cordeiro era entoado no sacrifício adicional no sábado de
manhã. É o que relata o Talmude babilônico, no tratado Rosh Hashaná 31a. João
entendeu imediatamente: no céu vigora o sábado, ou o descanso sabático. Isso
não deveria nos surpreender, pois em Hebreus 4.9 lemos: “Portanto resta
ainda um repouso sabático para o povo de Deus”. Os vencedores entraram no
descanso celestial! Mas o que é esse descanso no céu? Não se trata de
passividade, mas de descanso da pressão da tentação e da sedução. Os vencedores
também não estão passivos, mas tocam harpas. No Antigo Testamento havia dois
tipos desse instrumento. Um era o nevel, o outro, o kinnor. O
Novo Testamento traz apenas um termo, a palavra gregakithara, da qual
deriva a nossa “guitarra”. Essas pessoas no céu tocarão harpas e cantarão.
Concluímos daí que no céu não haverá passividade, mas atividade que se
desenrola no repouso de Deus.
Se quisermos ser vencedores, precisamos arrumar a nossa
vida diariamente à luz da Bíblia.
Por que João vê esses cantores junto ao mar de vidro? A
água servia para a limpeza das mãos e dos pés dos sacerdotes. Efésios 5.25
explica que a Palavra de Deus tem efeito purificador, como a água. Como os
crentes também são sacerdotes, eles precisam purificar-se diariamente pela
leitura da Bíblia. Se analisarmos a pia, e por extensão a Bíblia, vemos que ela
age como um espelho, pois nos mostra tudo o que não está certo em nossa vida
(Tg 1.23-25). Por isso os leitores da Bíblia são, em geral, pessoas corajosas,
pois estão dispostas a olhar no espelho da Palavra de Deus. Quando temos
consciência do que não está certo em nossa vida, esse reconhecimento deve
sempre nos levar à auto-avaliação:“Se confessarmos os nossos pecados, ele é
fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”
(1Jo 1.9). Precisamos aplicar essa auto-avaliação de forma constante (veja
1Co 11.28-31), assim como os sacerdotes da Antiga Aliança lavavam regularmente
os pés e as mãos. As mãos falam daquilo que fazemos, e os pés, dos lugares
aonde vamos. Quando vivemos neste auto-escrutínio diário e não permitimos que
as injustiças se acumulem na nossa vida, isso nos protegerá contra pecados mais
graves. Todos nós temos naturezas pervertidas e somos capazes de cometer
qualquer tipo de pecado. Ficaremos protegidos se consertarmos diariamente
diante de Deus aquelas coisas que reconhecemos como pecado. Em geral, os
pecados graves resultam de um longo caminho, e não deveríamos deixar que chegue
esse ponto. Mas vamos nos questionar: como os vencedores junto ao mar de vidro
terão sobrevivido à pressão da sedução? É muito simples, pois essas pessoas vão
se sujeitar ao auto-escrutínio diário. Também é digno de nota que seu cântico
não traz nenhum traço de amargura, apesar das tribulações que enfrentarão. Isso
só é possível por meio da comunhão viva com o Senhor no dia-a-dia. O mar de
vidro também nos ensina algo prático para a nossa vida como cristãos: se
quisermos ser vencedores, precisamos arrumar a nossa vida diariamente à luz da
Bíblia.
No Lugar Santo
Em nossa viagem pelo terceiro céu continuamos agora em
direção ao candelabro de sete braços, entrando em pensamentos no Lugar Santo, o
templo em si: “E do trono saíam relâmpagos, e vozes, e trovões; e diante
do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus”
(Ap 4.5). Sete lâmpadas brilham diante do trono no santuário – são as sete
chamas do candelabro de ouro, a menorá. O texto explica aqui que as chamas são
os sete espíritos de Deus. Talvez você pense: “Mas só existe um Espírito de
Deus”. Afinal, é o que diz Efésios 4: há “um só Espírito”. Mas no
Apocalipse o Espírito Santo, o único, é representado em toda a sua perfeita
multiplicidade. O Espírito, que Isaías 11.2 diz repousar sobre o Messias, é
descrito da seguinte forma: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o
espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza,
o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. São sete nomes que
representam o Único Espírito em toda a perfeição e multiplicidade da sua ação.
O Espírito Santo inspirou maravilhosamente esse versículo no texto original.
Primeiro é citado um nome mais geral, o Espírito do Senhor. Seguem-se duplas de
nomes ligados pela palavra “e”. Isso corresponde à aparência do candelabro de
sete braços: uma chama principal no centro, ladeada por três pares de braços.
No texto acima, esses braços são representados com a descrição “o espírito
de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o
espírito de conhecimento e de temor do Senhor”.
Quando vemos as sete chamas no santuário, somos lembrados
do Espírito de Deus que nos conduziu neste mundo. O espírito da sabedoria:
numerosas vezes sentimos que nos faltava sabedoria, mas o espírito da sabedoria
sempre a providenciava para nós. O espírito de entendimento: algumas pessoas
acham que entendimento e fé são mutuamente excludentes, mas o Espírito Santo é
o espírito do entendimento! Os pensamentos dos seres humanos estão obscurecidos
por Satanás (veja 2Co 4.3ss.), mas o Espírito Santo ilumina nosso entendimento.
Ele não anula nosso espírito de forma que desfaleçamos. Isso não é ação do
Espírito de Deus, o espírito de sabedoria e entendimento. O espírito de
conselho e de fortaleza: muitas vezes não soubemos tomar uma decisão. Mas o
Espírito de Deus nos aconselha. Sentimo-nos fracos, mas o Espírito de Deus nos
dá força. Não entendemos a Bíblia, mas o Espírito de conhecimento nos dá
compreensão. Não sabíamos quem é Deus, mas o espírito de temor do Senhor
colocou em nosso coração uma profunda percepção da grandeza e da majestade de
Deus.
O altar do incenso
Em pensamentos dirigimo-nos agora para o dourado altar do
incenso. “Veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de
ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para que o oferecesse com as orações de
todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E da mão do
anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos. Depois
o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o lançou sobre a terra;
e houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto” (Ap 8.3-5). Aqui vemos um
sacerdote executando seu serviço no altar celestial. No Apocalipse há quatro
textos em que o Senhor Jesus é chamado de “outro anjo”. A palavra grega angelos significa
“mensageiro”. Pode ser um homem ou um anjo, mas também o Filho de Deus, o
Enviado do Pai, assim como no Antigo Testamento “o anjo do Senhor” (mal’akh
adonai) era o próprio Deus, o Filho de Deus. O “outro anjo” é citado pela
primeira em Apocalipse 7, mas ainda sem revelar ao certo de quem se trata. No
capítulo 8 descobrimos que se trata de um sacerdote. No capítulo 10 ele coloca
Seus pés sobre a terra e sobre o mar, demonstrando assim o Seu direito ao
mundo, pois, afinal, ele é o Rei. Em Apocalipse 18 Ele anuncia a queda da
Babilônia, e toda a terra é iluminada pela glória desse mensageiro. Nesse texto
ele é um profeta. Jesus é tudo para nós: Rei, Sacerdote e Profeta.
Como nosso Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus está junto do
altar do incenso. Ele dá poder às orações dos santos na terra. Pouco antes foi
aberto o sétimo selo, dando início à Grande Tribulação. Em Mateus 24, Jesus diz
aos judeus crentes: “que a fuga não aconteça num sábado”. As pessoas
descobrirão o real significado da oração, pois agora sabem que chegou a hora.
Durante meia hora há silêncio no céu (veja Ap 8.1), e então o Sumo Sacerdote dá
poder às orações. Ele toma o incensário, um vaso de ouro com um suporte, uma
tampa e um anel. Dentro dele há incenso, essa maravilhosa mistura de
componentes botânicos aromáticos. No Antigo Testamento o sacerdote junto ao
altar de ouro pegava incenso do incensário com os dois polegares e deixava-o
cair sobre o carvão em brasa do altar. A fumaça gerada dessa forma subia em
linha reta. Esse incenso aromático expressa a múltipla glória da pessoa do
nosso Senhor Jesus Cristo. Dessa forma, Ele adiciona sua glória pessoal às
orações dos santos, dando-lhes peso diante de Deus. Só então é possível falar
de oração em nome de Jesus, que precisa acontecer em concordância com a vontade
do Filho de Deus (Jo 14.13-14). Essas orações chegam a Deus como se o seu
próprio Filho as dissesse.
O Senhor Jesus dá a essas orações, que concordam com a
Sua vontade, toda a glória da Sua pessoa, e assim elas chegam diante de Deus.
Se tivermos a impressão de que nossas orações não estão passando do teto do
quarto, podemos ter esta certeza: se orarmos de acordo com a vontade de Deus,
revelada na Bíblia, é claro que essas orações serão atendidas. Apocalipse 9.13
menciona explicitamente os quatro chifres no altar de ouro no céu. Chifres são
um símbolo de força e poder; os quatro chifres no altar pretendem deixar claro
que a oração em nome de Jesus tem grande poder e efeito, e isso em todo mundo.
Por isso os chifres também apontam para os quatro pontos cardeais. Dessa cena
no céu aprendemos que a oração realmente tem efeito. Muitos pensam: “Na
verdade, Deus acaba fazendo o que Ele quer, de qualquer forma. Qual é, então, a
utilidade das nossas orações?” Mas em Tiago 4.2 está escrito: “Nada
tendes, porque não pedis”. Por um lado, há coisas que Deus não faria se
Seus filhos não pedissem por elas. Por outro lado, há coisas que Deus faz, quer
peçamos, quer não peçamos por elas. Afinal, Deus é soberano. Mas também há
coisas que Deus não faz se nós não pedirmos por elas.
O melhor ainda virá: no Santo dos Santos
O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses
diante de mim”. É a condenação de todas as religiões do mundo!
Guardei para o fim o destino mais belo da nossa viagem
pelo céu. Por isso, em pensamentos entramos agora no Santo dos Santos. “Imediatamente
fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um
assentado sobre o trono; e aquele que estava assentado era, na aparência,
semelhante a uma pedra de jaspe e sárdio; e havia ao redor do trono um
arco-íris semelhante, na aparência, à esmeralda. Havia também ao redor do trono
vinte e quatro tronos; e sobre os tronos vi assentados vinte e quatro anciãos,
vestidos de branco, que tinham nas suas cabeças coroas de ouro... também havia
diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal; e ao redor do
trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por
diante e por detrás; e o primeiro ser era semelhante a um leão; o segundo ser,
semelhante a um touro; tinha o terceiro ser o rosto como de homem; e o quarto
ser era semelhante a uma águia voando” (Ap 4.2-4,6-7). Do que é feito o
trono de Deus? De acordo com o Salmo 132.7-8, a Arca da Aliança é o apoio dos
pés de Deus. Em Apocalipse 11.9 a Arca da Aliança é expressamente mencionada no
céu. No Antigo Testamento havia dois querubins sobre a tampa da arca. Esses
seres são descritos em detalhes em Ezequiel 1.8-11. Trata-se de anjos com
rostos de leão, boi, homem e águia. No texto do Apocalipse que acabamos de
citar os quatro seres viventes são querubins no Santo dos Santos. É verdade que
sobre a Arca em si havia só dois querubins, mas durante a construção do templo
Salomão mandou fazer mais duas figuras de querubins revestidas de ouro (1Re
6.23-28). Portanto, havia ao todo quatro desses seres viventes em torno do
trono de Deus. A Arca da Aliança é, assim, o apoio dos pés de Deus, e Ele está
entronizado entre os querubins. Por isso, o Salmo 80.2 diz: “...tu, que
estás entronizado sobre os querubins, resplandece”. O trono de Deus é
citado 37 vezes no Apocalipse, mais do que em qualquer outro livro da Bíblia.
Justamente o livro que mostra como o mundo será abalado pelas maiores
catástrofes, de modo que poderíamos pensar que Deus perdeu o controle, nos
mostra: Deus ainda está seguindo Seu plano, e tudo Lhe está sujeito! A
lembrança do trono de Deus nos dá grande segurança: o que quer que aconteça em
nossa vida, o trono de Deus é inabalável. A Arca é o local da reconciliação.
Originalmente a Arca era local de juízo, pois dentro dela estavam os Dez
Mandamentos. O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses diante de
mim”. É a condenação de todas as religiões do mundo! A Arca da Aliança
como parte do trono de Deus condena a humanidade, mas também era o local onde o
sumo sacerdote aspergia o sangue. Por isso, ela também fala de reconciliação.
Quando chegarmos ao céu e virmos o trono de Deus, teremos a certeza de ter sido
aceitos com base no sangue de Jesus. O véu foi rasgado, como aconteceu com a
sua cópia terrena (veja Mt 27.51), abrindo-nos assim o acesso ao Santo dos
Santos. Em Hebreus 10.19 somos convidados a entrar. Hoje só podemos nos colocar
na presença de Deus em pensamento, mas virá o dia em que entraremos de fato no
Santo dos Santos, pois lá é o nosso lar. Então experimentaremos o que agora
antecipamos em pensamento, pois o melhor ainda virá!(Roger Liebi - http://www.chamada.com.br)