sábado, 26 de janeiro de 2013

Pequenos inícios, grandes consequências

"A religião há de fracassar e petrificar, e a fé, de crescer e transformar."
Lucas 13.18-21
Jesus disse: — Com o que o Reino de Deus é parecido? Que comparação posso usar? Ele é como uma semente de mostarda que um homem pega e planta na sua horta. A planta cresce e fica uma árvore, e os passarinhos fazem ninhos nos seus ramos. Jesus continuou: — Que comparação poderei usar para o Reino de Deus? Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura em três medidas de farinha, até que ele se espalhe por toda a massa.
Quem não deseja “sucesso” na vida? Como cristãos, talvez não queiramos admitir nestes termos, mas de uma forma ou outra acredito que todas as pessoas querem ver resultado positivo dos seus esforços nesta vida. Se o investimento for no “reino de Deus”, seu retorno será garantido, pelo menos ao longo prazo. Pois mesmo um pequeno início, a sua participação, certamente surtirá grande efeito. Tanto a parábola do grão de mostarda quanto a parábola do fermento ensinam esta simples mas espantosa verdade. 
Ouça as parábolas com os ouvidos da fé e veja com os olhos do reino.
As duas parábolas, da semente de mostrada (vv.18-19) e do fermento (vv.20-21), são contadas como continuação do ensino que Jesus iniciou na sinagoga no versículo 10 (ao pé da letra, v.18 começa assim: “então, disse” ou “portanto, disse”, élegen oûn, referindo ao que acabou de acontecer). As parábolas, então, são o ensino de Jesus acerca do que ocorreu logo antes na sinagoga. Por isso, é necessária a nossa leitura a partir de Lucas 13.10. E nestes versículos, Jesus curou uma mulher encurvada por uma doença com algum vínculo demoníaco. Ele a curou pela sua “palavra” ou afirmação de cura e depois de pôr as mãos nela. Só que o dia era sábado e o chefe da sinagoga não gostou. Jesus respondeu ao chefe o acusando de hipocrisia (afinal o chefe se dirijia ao povo quando, de fato, queria mesmo criticar Jesus) e deu a sua defesa dizendo que não é justo deixar uma mulher, filha de Abraão, presa (ao reino de Satanás) dezoito anos quando se solta um boi ou jumento preso poucas horas para tomar água. Esta resposta envergonhou os seus inimigos, mas impressionou a multidão que ficou muito alegre. É neste contexto que Jesus contou as duas parábolas.
E ao contar as duas parábolas Jesus revelou o verdadeiro sentido do sábado, que desde o princípio era uma consagração da criação para sua finalidade boa e própria (Hebreus 4.4-10). Isto ocorre pela libertação da criação do poder de Satanás. Logo, ao curar no sábado Jesus se apresentou como o Senhor do sábado, aquele que veio para libertar a própria criação e inverter o efeito do pecado que se manifesta não só no mal comportamento, mas também na doença e na opressão.
É um caso clássico duma estória contada para os (tidos como) religiosos não entenderem. Afinal, o que uma semente de mostrada ou fermento tem a ver com esta cura da mulher? O que vocês acham? Tudo isto é para ressaltar o que Jesus falou a respeito do seu uso de parábolas:
A vocês Deus mostra os segredos do Reino do Céu, mas a elas [pessoas que não são discípulos], não. Pois quem tem receberá mais, para que tenha mais ainda. Mas quem não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que eu uso parábolas para falar com essas pessoas. Porque elas olham e não enxergam, escutam e não ouvem, nem entendem. – Mateus 13.11-13; veja também Marcos 4.10-12
Isto significa que a lição das parábolas propositalmente não é evidente para os religiosos que seguem uma religião das regras e do ritual externos. Não que as lições sejam difíceis a entender. De fato, são fáceis uma vez lidas com os olhos da fé. Mas não são nada fáceis para aqueles que vivem uma religião fechada, que exclui os outros, e uma religião de cercas (faça isto e não faça aquilo). Jesus falou claramente que as parábolas são patentes para quem segue ele, não para quem segue a religião em si. Sempre que estamos diante de uma parábola, devemos tomar o máximo de cuidado para interpretá-la com os olhos da fé, e não os olhos simplesmente da religião. No nosso caso, as parábolas da semente de mostrada e do fermento têm a ver com o fato de Jesus ter curado no sábado. Qual é a lição? Há basicamente uma, com duas dimensões, cada uma correspondendo a cada uma das duas parábolas. Há lição única é isso: A realidade do reino de Deus, no princípio, não é evidente, mas seu efeito eventualmente é grande e abrangente. A parábola da semente de mostarda ressalta a dimensão externa desta lição e a parábola do fermento enfatiza a dimensão interna.
A dimensão externa é esta: o reino de Deus, como uma semente de mostrada, começa pequeno e aparentemente insignificante, mas se torna, no tempo hábil, grande, e alcança o mundo inteiro. A cura por Jesus e a sua explicação da cura sendo no sábado é como uma semente de mostarda. Como? Os passarinhos que fazem ninhos nos ramos da grande árvore de mostarda representa o alcance de todas as etnias no sonho de Beltessazar que Daniel interpretou em Daniel 4.20ss (veja também Ezequiel 17.23; 31.6). Por isso, um pouquinho para frente Jesus disse no mesmo capítulo de Lucas, versos 29-30, “Muitos virão do Leste e do Oeste, do Norte e do Sul e vão sentar à mesa no Reino de Deus. E os que agora são os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.” Aqui e na parábola da semente de mostarda, Jesus prevê o alcance universal do evangelho que no momento parece pouca coisa, e ao mesmo tempo, Jesus critica os religiosos que por tanta preocupação com uma religião de regras, serão os últimos.

A dimensão interna é esta: o reino de Deus, como fermento, começa como algo imperceptível, mas se torna, no tempo hábil, algo abrangente, transformando todo o seu meio. (Observação: As três medidas de farinha equivalem 13,3 litros, uma quantia especialmente grande, o suficiente para alimentar 160 pessoas, a mesma quantia mencionada em Gn 18.6; Jz 6.19 e 1Sm 1.24 e traduzida como “dez quilos”). A cura por Jesus e a sua explicação da cura sendo no sábado é como um fermento na massa. Como? O reino de Deus, diferente que a tradição religiosa, é novo, aberto e inclusivo, e escandaloso. A religião há de fracassar e petrificar, e a fé, de crescer e transformar.
Fonte: sepal.org

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