Em artigo anterior, apresentei as heresias que os primeiros cristãos tiveram que enfrentar. Meu objetivo é que os cristãos de hoje entendam que estudar a Bíblia não significa memorizar suas palavras, mas entender a Palavra e não cometer as novas heresias que vemos, como alguns cristãos que alegam ter uma oração que “obriga” Deus a fazer o que queremos e defendem o aborto, isso mesmo, cristãos favoráveis à matança dos indefesos.
Cabe antes uma observação: as rupturas que ferem a unidade do Corpo de Cristo acontecem de três formas: a heresia, a apostasia e o cisma. A heresia é a negação persistente, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deve crer com fé, ou a dúvida a respeito dessa verdade. Apostasia é a negação total da fé cristã. E cisma é a recusa da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos (§2089).
Algum tempo depois do Concílio de Calcedônia, do ano 451, apareceram alguns cristãos que fizeram da natureza humana de Cristo uma espécie de sujeito pessoal. Contra eles. Para combater essa heresia, reuniu-se o V Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 553, que confessou a propósito de Cristo: “Não há senão uma única hipóstase (ou pessoa), que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Um da Trindade”. Na humanidade de Cristo, portanto, tudo deve ser atribuído à sua pessoa divina como ao seu sujeito próprio; não somente os milagres, mas também os sofrimentos, e mesmo a morte (CIC §468).
A Igreja confessa, assim, que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Ele é verdadeiramente o Filho de Deus que se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso Senhor. Conforme a liturgia romana: “Id quod fuiit remansit et quod non fuiit assumpsit - Ele permaneceu o que era, assumiu o que não era”. E, ainda, a liturgia de João Crisóstomo proclama em oração: “Ó Filho Único e Verbo de Deus, sendo imortal, vos dignastes por nossa salvação encarnar-vos da Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, vós que sem mudança vos tomastes homem e fostes crucificado, ó Cristo Deus, que por vossa morte esmagastes a morte, sois Um da Santíssima Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo, salvai-nos!” (§469).
Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição, sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne (§675). É preciso agir como Moisés que tirou a força e a tenacidade de sua intercessão. Não ora por si, mas pelo povo que Deus adquiriu. Mas é sobretudo depois da apostasia do povo que ele se posta diante de Deus (Sl 106,23), para salvar o povo (§2577).
Mario Eugenio Saturno, de Bariloche - Argentina, é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)
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