O cristão de hoje provavelmente nem imagina que a Bíblia que tem nas mãos é resultado do trabalho de grandes homens que não só preservaram as Escrituras como também combateram aqueles que procuraram deturpar as palavras de Nosso Senhor, as heresias. Para muitos cristãos, ter uma oração que “obriga” Deus a fazer o que precisamos não parece ser um absurdo sem tamanho, vivem a heresia e não se apercebem. Assim, pretendo mostrar as idéias dos primeiros heréticos.
A Encarnação do Filho de Deus, acontecimento único, não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem (CIC §464).
As primeiras heresias, mais do que a divindade de Cristo, negaram sua humanidade verdadeira (chamado de docetismo gnóstico). Desde os tempos apostólicos a fé cristã insistiu na verdadeira Encarnação do Filho de Deus, “que veio em carne”. Mas desde o século III a Igreja teve de afirmar, contra Paulo de Samósata, em um concílio reunido em Antioquia, que Jesus Cristo é Filho de Deus por natureza e não por adoção. Então, surgiu Ário que afirmava que “o Filho de Deus veio do nada” e que ele seria “de uma substância diferente da do Pai. Isso foi condenado pelo I Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325 (§465).
Apareceu à heresia nestoriana que via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Diante dela, Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso em 431, confessaram que “o Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem”. A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde sua concepção. Por isso o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção humana do Filho de Deus em seu seio: “Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (§466).
Os monofisistas afirmavam que a natureza humana tinha cessado de existir como tal em Cristo ao ser assumida por sua pessoa divina de Filho de Deus. Confrontado com esta heresia, o IV Concílio Ecumênico, em Calcedônia, confessou em 451: ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de um alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, “semelhante a nós em tudo, com exceção do pecado” (§467). Há outras heresias que serão tratadas posteriormente.
Mario Eugenio Saturno, de Bariloche - Argentina, é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)
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