Não precisamos pensar. Elaborar planos. Decidir qual o
melhor caminho ou projeto. É possível contratar alguém para elaborar um plano
de vida saudável. E depois é só seguir as instruções. É a época da
terceirização. Tudo preparado, enlatado e executado por outros. Você só precisa
colher os frutos. Quer emagrecer? É fácil! Basta contratar um nutricionista.
Ele avalia o seu peso. Altura. A estatura e elabora uma lista de alimentos a
serem consumidos. Tudo balanceado, com hora certa e peso certo. Caso venha a morrer
de câncer, não há o que reclamar. Você não seguiu as recomendações com
exatidão. Ou em linguagem neo-pentecostal: Não exerceu a fé.
Mas se o seu problema é um corpo esbelto. Estrutural.
Galã de cinema ou de novela. Não há dificuldades. Compre alguns aparelhos de
ginástica. Coloque-os em algum canto da casa e contrate um “personal trainer”
Com hora marcada ele lhe ministrará os exercícios necessários. Pode até receber
algumas massagens, com unguentos aromáticos e em breve seu corpo causará
admiração. Caso consiga unir a receita balanceada do nutricionista com os
exercícios do “personal trainer” os resultados serão fantásticos. Claro tudo
tem um preço. Às vezes bem salgado. Mas compensa fazer sacrifício e participar
do clube dos admirados e invejados.
Ah! Aquela festa de casamento no final do ano! O que
vestir? Não se preocupe. Contrate um “personal stylist”. Após um exame da sua
face. Tamanho do nariz. Cor dos olhos. Cabelos e outros detalhes do seu corpo,
ele lhe vestirá com o melhor traje. Você vai “arrasar” na festa. Todos vão
desejar saber quem é o seu costureiro. Em que salão de beleza você fez o
penteado. Para manter a curiosidade e admiração recomenda-se não revelar o
segredo.
O mercado não para. Agora é possível contar com um novo
profissional. A vida está confusa? Não sabe que decisão tomar? Não há
problemas. Já existe o “life coach” ou “personal coach”. Você conta-lhe seus
sonhos. Aonde quer chegar. Ele elabora um programa a ser seguido e você chega
lá. Nada a ver com o livro “Eu chego lá” de Zig Ziglar. Não acredita? Há uma
pré-candidata à presidência da República que aproveitou as férias para plástica
facial. Mudar o visual, a aparência é essencial para fazer política. O
“personal coach” cuida da aparência. Do novo sorriso e dos seus planos de vida
visando pleno sucesso. Não há porque se preocupar. Basta contratá-lo. Até
diploma de conclusão de curso universitário é possível conseguir. Há pouco foi
preso um técnico que se fez “doutor”, com diploma registrado e reconhecido pelo
MEC. Não há por que estudar. Alguém lhe dá as credenciais necessárias para ser
vitorioso.
Não me julgue! Não me condene! Mas se você analisar os
Congressos e encontros de diferentes conotações realizados nos últimos dez
anos, descobrirá, caso queira, que os preletores são os mesmos. Alguns são
cardápios necessários em toda programação. Entendem de tudo. São “experts” em
todos os assuntos. Falam mal de todas as Denominações. Dá ibope. Contam as
mesmas piadas. Isto alegra os ouvintes. Repetem as mesmas ilustrações. Estão
tentando quebrar paradigmas. Mas não conseguiram construir uma idéia válida.
Uma nova filosofia evangélica, com resultados positivos para o Reino de Deus.
“Ensinam” como
pastorear, sem nunca ter convivido com ovelhas, bodes e rebanhos. Descobriram
que “ensinar” a fazer dá menos trabalho do que fazer. Claro que o lucro
financeiro é maior. Adentrar uma UTI ou passar a madrugada ante um bloco
cirúrgico, chorando com a ovelha desesperada, não dá retorno financeiro. Uma
mensagem oficial numa Convenção ou num Congresso, numa estância hidromineral,
requer menos neurônios e menos compromisso.
Claro que eles existem. Razão simples: gostamos de ouvir
o “personal coach” a dizer-nos como fazer. Caso não funcione o fracasso é
debitado a sua falta de inteligência.
Mas e as Igrejas terceirizadas? É a moda do momento.
Programas importados da Colômbia. Da Coréia. Dos Estados Unidos. Da Argentina.
Alguém ouviu que em determinado lugar uma Igreja adotou um programa. De vinte
membros, em dois anos, passou a vinte e cinco mil membros. Claro, se deu certo
na Coréia ou nos Estados Unidos, tem que dar certo no Rio Grande do Sul ou em
Santa Catarina. Ledo engano. Mesmo com injeção de dólares para a propaganda e
realizações de Congressos, cada local tem suas características próprias. Não
basta importar e terceirizar. É preciso trabalhar. Há muito barulho com
importações de programas. Enlatados nem sempre são digestíveis. Pior se você
não adota o enlatado passa a ser olhado com desdém, tradicional e retrógrado.
Nada contra homens de Deus e Igrejas, em diferentes partes do mundo, que
realizam excelentes ministérios para glória do Senhor. Evangelho não se
terceiriza. É vida. E vida cristã tem que ser original. Autêntica. Não há como
terceirizar a experiência pessoal com Cristo. Não posso contratar alguém para
viver minha experiência com Cristo. Não há como transferir a um terceiro a
minha responsabilidade de evangelizar e fazer Missões. Meu crescimento
espiritual não pode ser atrelado a Congressos, retiros e encontros com
“personal coach”. Ninguém pode ler a Bíblia em meu lugar. Não posso ficar
estatelado na frente da TV e crer que é possível pertencer a uma Igreja
virtual.
Somos chamados a pagar o preço do relacionamento com
irmãos indesejáveis. A participar de uma Igreja local com todas as suas
picuinhas. A evangelizar como pessoa as pessoas que cruzam o nosso caminho.
Sejam elas agradáveis ou não. Jesus não instituiu uma Igreja virtual e
terceirizada. Mas desafiou os seus seguidores a viver como irmãos em comunidade
que nos afetam a cada momento.
É fácil contratar um “personal coach” espiritual. Dá
menos trabalho. Mas este não é o propósito do Evangelho. É fácil depositar numa
conta bancária o dízimo que pertence a Igreja local, para sustentar um
ministério virtual. Difícil é entregá-lo à Igreja local e participar com amor
de sua administração.
Igrejas virtuais e terceirizadas não fazem visitas à UTI.
Desconhecem a porta misteriosa dos blocos cirúrgicos. Não sabem o que significa
necrotério ou capela mortuária. Não tem sentimento. Não sabem o que é
relacionar-se como irmãos em Cristo.
Não terceirize sua vida cristã. Não importe enlatados.
Não copie programas. Seja autêntico. Seja você mesmo e viva a beleza simples da
comunidade cristã local.
por: Pr. Julio Oliveira Sanches - portal padom
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