Muitas passagens na Bíblia nos mostram claramente que o
silêncio de Deus foi a melhor resposta às orações. Em outros casos, as
respostas dadas mostraram não ser o melhor para quem as pediu.
Vamos começar observando a mais terrível e chocante
oração não respondida da história da humanidade: "Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?" (Mateus 27.46).
Esse questionamento por parte de Jesus tem um profundo
significado para toda a humanidade. Em primeiro lugar, porque revela que Deus
realmente Se manifestou na carne: "evidentemente, grande é o mistério da
piedade: Aquele (Deus) que foi manifestado na carne" (1 Timóteo
3.16). Além disso, ele também mostra que, de fato e de verdade, Jesus
tornou-se 100% humano, estando inclusive sujeito à morte. Lemos em Filipenses
2.7-8:"Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se
em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz".
Jesus, o Filho de Deus, deixou Sua habitação de poder,
autoridade e glória e tornou-se um homem de carne e osso. Pela Bíblia sabemos
que Ele foi tentado como nós somos tentados. Ele sentia cansaço, fome e sede;
sentia alegria, tristeza, insatisfação e compaixão. Mas com uma diferença: Ele
não tinha pecado!
O mais inexplicável mistério na história da humanidade é
Deus manifestado na carne. Essa declaração tem sido pedra de tropeço para
muitos que não estavam realmente em busca da verdade.
Um considerável número de religiões não crê em Jesus como
o Filho de Deus. Seguidamente elas usam esta afirmação para justificar suas
falácias, dizendo em tom de escárnio: "Se Jesus era Deus, então porque Ele
orou ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’Por acaso Ele estava orando
para si mesmo?"
Uma pessoa honesta que ousasse fazer tal questionamento
iria rapidamente encontrar a resposta estudando as Escrituras e aprenderia logo
que Jesus de fato é Deus.
Vamos analisar alguns exemplos:
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"
Depois de Jesus ter curado um paralítico no tanque de
Betesda, Seus inimigos Lhe fizeram a seguinte acusação: "e, porque ele
disse isso, os líderes judeus ficaram ainda com mais vontade de matá-lo. Pois,
além de não obedecer à lei do sábado, ele afirmava que Deus era o seu próprio
Pai, fazendo-se assim igual a Deus" (João 5.18). Eles afirmavam que
Jesus se fazia"igual a Deus".
Aqueles que escarneciam e acusavam Jesus ouviram-nO
testemunhando que Ele era Deus, conforme lemos em Mateus 27.43: "...porque (Jesus) disse:
Sou Filho de Deus".
Quando Jesus morreu, um centurião, do qual não sabemos o
nome, declarou no versículo 54: "...verdadeiramente este era Filho de
Deus"
Em João 20.28 lemos: "Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu
e Deus meu!".
A Grande Resposta Silenciosa
O que teria acontecido se Deus tivesse respondido ao
apelo do Senhor Jesus? O que teria acontecido se o Pai não tivesse abandonado o
Filho? O que teria acontecido se Deus tivesse respondido ao desafio dos
principais sacerdotes, escribas e anciãos quando disseram: "Confiou
em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse:
Sou Filho de Deus"(Mateus 27.43)? A resposta é a terrível realidade
do que nós merecíamos! Cada um de nós permaneceria morto em suas transgressões
e pecados, abandonado por Deus por toda a eternidade! Não teria havido salvação
para a humanidade! Efésios 2.12 demonstra claramente nossa posição
desesperançada: "naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da
comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e
sem Deus no mundo".
Se o Pai celestial tivesse respondido à oração de Jesus
na cruz, não haveria futuro para nós, mas um perpétuo e imensurável sofrimento
além de uma eternidade no inferno!
Entretanto, as Escrituras continuam: "Mas, agora, em
Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de
Cristo"(v. 13).
Assim sendo, para o nosso próprio bem, a melhor resposta
para o clamor do Senhor Jesus foi o silêncio de Deus. Jesus deliberadamente
veio à terra com o único propósito de redimir o homem caído. Sua vinda não foi
um acidente ou o resultado de alguma circunstância invisível, mas fazia parte
do plano eterno de Deus para a nossa salvação.
Se queremos ter um entendimento melhor do sacrifício
supremo de Deus, precisamos ver a realidade de Suas intenções. Teremos um
entendimento mais profundo para reconhecer Sua posição eterna ao nos ocupar com
a Sua palavra. Para Deus nada acontece por acidente, nem existem coincidências.
Deus não depende da nossa percepção de tempo porque Ele é eterno. Somente
quando tivermos alcançado nosso destino final é que entenderemos o que é a eternidade.
Antes da Fundação do Mundo
Pedro amplia nossa visão sobre a vinda de Cristo: "mas
pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de
Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no
fim dos tempos, por amor de vós" (1 Pedro 1.19-20). Mesmo antes do
homem ter caído em pecado, Deus, em Sua onisciência, estabeleceu um plano de
salvação que foi manifesto com a vinda de Jesus. E até mesmo o evento real que
aconteceu aqui na terra foi suplantado pela resolução eterna proclamada em
Apocalipse 13.8: "...do Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo".
É virtualmente impossível entendermos essa incrível
verdade apenas com o nosso intelecto limitado. Como algo pode ter ocorrido
mesmo antes de ter se manifestado fisicamente aqui na terra? Não encontramos
resposta se fizermos a pergunta nesse nível. Quem pode explicar
intelectualmente a passagem: "...assim como nos escolheu nele antes da
fundação do mundo..."(Efésios 1.4)? Podemos apenas perceber
espiritualmente essa realidade quando a vemos pela perspectiva celestial. Para
ilustrar esse fato, consideremos o seguinte exemplo:
Sabemos que o sol nasce no leste e se põe no oeste.
Podemos determinar isso cientificamente através do uso de instrumentos que
medem os movimentos do sol. Porém esse fato científico se tornaria nulo se
viajássemos no espaço, pois lá as regras mudam, a lei do espaço vigoraria e
veríamos que a Terra, na realidade, faz seu movimento de rotação em torno do
próprio eixo, criando assim a ilusão de que o sol nasce no leste e se põe no
oeste.
Jesus no Jardim
"Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres."
Para termos um entendimento melhor da morte voluntária de
Jesus e do silêncio de Seu Pai em resposta à Sua oração, devemos primeiro olhar
mais de perto aquela fatídica noite no Jardim Getsêmani: "Em seguida, foi
Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos:
Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos
dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes
disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai
comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e
dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como
eu quero, e sim como tu queres" (Mateus 26.36-39). Do ponto de vista
humano, esse é um dos mais trágicos eventos do Novo Testamento. Lemos uma
descrição detalhada do comportamento do Senhor antes de Sua prisão, que
resultou em Sua condenação e posterior execução na cruz do Calvário.
Jesus levou consigo Seus discípulos mais próximos, dos
quais Pedro era o mais chegado. Lembre-se que pouco tempo antes Pedro jurara
solenemente ser um fiel seguidor de Jesus, mesmo que isso lhe custasse a
própria vida: "Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo
te negarei..." (v. 35). Pedro fez uma declaração corajosa ao afirmar
abertamente que seguiria Jesus mesmo que tivesse de morrer por isso.
Pedro Falhou
O Senhor já havia informado a Pedro que Ele teria de
morrer para que as Escrituras se cumprissem. Pedro entendeu isso, porque
anteriormente havia identificado o Senhor como sendo "o Cristo, o Filho do
Deus vivo" (Mateus 16.16). A confissão de Pedro deu-se num lugar
chamado Cesaréia de Filipe, onde Jesus perguntou a Seus discípulos: "Quem
diz o povo ser o Filho do Homem?" (Mateus 16.13). É óbvio que Pedro
sabia que a palavra profética tinha de ser cumprida. Ele não tentava mais
defender Jesus, mas sabia que a morte era inevitável. Veja que ele disse:
"Ainda que me seja necessário morrer contigo..." O fato de que Jesus
teria de morrer já havia sido entendido, e o que restava agora era uma questão
de fidelidade ao Senhor. Pedro permaneceria fiel até o fim?
De acordo com a Palavra de Deus sabemos que ele não o
fez. Pedro negou ao Senhor, não apenas uma, nem duas, mas três vezes, como
Jesus profetizou que ele faria.
No Getsêmani
Agora vamos focalizar nossa atenção no Senhor que foi até
o jardim chamado Getsêmani, afastando-Se dos discípulos e ficando apenas com
Pedro e os dois filhos de Zebedeu a Seu lado. Quando Ele ficou sozinho, mais
tarde, "adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto,
orando..."(Mateus 26.39). Qual foi a Sua oração? "..Meu Pai, se
possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como
tu queres" (v. 39). Jesus não recebeu resposta. O Pai ficou em silêncio. Jesus
voltou até onde estavam os Seus discípulos: "...E, voltando para os
discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes
vós vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito,
na verdade, está pronto, mas a carne é fraca"(vv. 40-41). Algo muito
natural tinha acabado de acontecer: a carne dos discípulos não estava disposta
e nem era capaz de resistir aos ataques de Satanás.
Não sabemos quanto tempo o Senhor orou, mas deve ter sido
durante pelo menos uma hora, se nos basearmos na afirmação: "Então, nem
uma hora pudestes vós vigiar comigo?" Apesar da promessa determinada
de Pedro de morrer com o Senhor, ele já havia se afastado da batalha que
acontecia no Getsêmani.
A Oração Contínua de Jesus
"Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu
Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a
tua vontade" (v. 42). Novamente não houve uma resposta do Pai, apenas
silêncio. Jesus deu aos discípulos outra chance: "...voltando, achou-os
outra vez dormindo; porque os seus olhos estavam pesados" (v. 43). Desta
vez o Senhor não os acordou nem deu outra instrução. Ao invés disso, lemos que
Ele: "...Deixando-os novamente, foi orar pela terceira vez, repetindo as
mesmas palavras" (v. 44).
A Agonia
"E, estando em agonia, orava mais
intensamente."
Ao lermos o relato no evangelho de Marcos notamos que o
evento é descrito de uma forma um pouco diferente. Entretanto, Lucas revela que
após Jesus ter orado, "...lhe apareceu um anjo do céu que o
confortava" (Lucas 22.43). Não nos é revelado como ele O
"confortava", mas no versículo seguinte lemos que Suas orações
tornaram-se ainda mais desesperadas: "E, estando em agonia, orava mais
intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo
sobre a terra" (v. 44).
Quando analisamos esse fato de uma perspectiva humana,
ele parece-nos ilógico, porque o versículo anterior diz que Jesus acabara de
ser consolado por um anjo do céu, continuando a batalhar em oração a tal ponto
que "gotas de sangue" caíram sobre a terra. Foi o consolo do
anjo uma resposta à Sua oração ou esse consolo era necessário para que Ele
continuasse orando? Creio que a segunda opção é a correta, como veremos ao
examinarmos mais detalhadamente essa situação.
A Tentação no Getsêmani
Normalmente se interpreta que Jesus, como Filho do Homem,
em carne e osso, tinha medo da morte como qualquer outro ser humano. Assim
sendo, não seria surpresa que Jesus orasse que "este cálice",
representando a morte na cruz, fosse passado d’Ele. Entretanto, tal interpretação
não corresponde a versículos como os do Salmo 40.7-8: "Então, eu disse:
eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a
tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei". Jesus
se agradava em fazer a perfeita vontade de Deus, a qual foi estabelecida antes
da fundação do mundo.
Para estar certo de que Davi não estava falando de si
mesmo nesta passagem, encontramos a confirmação em Hebreus 10.7,9,10: "Então,
eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para
fazer, ó Deus, a tua vontade... então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer,
ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa
vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus
Cristo, uma vez por todas". Se olharmos a oração de Jesus no Jardim
Getsêmani como um sinal de fraqueza, apesar d’Ele ter sido consolado por um
anjo, tal comportamento iria contradizer a passagem profética que acabamos de
ler.
Como Cordeiro Para o Matadouro
Consideremos o texto de Isaías 53.3,5 e 7: "Era
desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que
é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e
dele não fizemos caso... Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele,
e pelas suas pisaduras fomos sarados... Ele foi oprimido e humilhado, mas não
abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda
perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca". Como um cordeiro, Jesus foi levado para o matadouro; Ele
permaneceu em silêncio como uma ovelha.
Morte no Getsêmani?
Essas passagens das Escrituras nos dão razões para crer
que algo mais tenha acontecido no Jardim Getsêmani quando Jesus orou para que
"este cálice" pudesse ser passado dEle. Essa seria uma oração
desnecessária, uma exibição de fraqueza e indecisão, mas tal quadro não
corresponde à descrição completa do Messias.
Enquanto aparentemente o Pai ficou em silêncio diante da
tríplice oração de Jesus, as Escrituras documentam que Sua oração, na verdade,
foi respondida. Hebreus 5.5 fala de Cristo como o sacerdote da ordem de
Melquisedeque: "assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se
tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho,
eu hoje te gerei".
"Nisso exultais, embora, no presente, por breve
tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma
vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro
perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo"
O versículo 7 contém a resposta a essa oração: "Ele,
Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas,
orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa
da sua piedade". O Getsêmani foi o único local onde Jesus pediu que
Sua vida fosse poupada; Jesus não morreu no Jardim Getsêmani.
O silêncio aparente de Deus diante da oração de Jesus no
Jardim foi, como vimos, uma clara resposta a essa oração. Desse ponto de vista,
entendemos que a oração de Jesus não foi para que Sua vida fosse poupada na
cruz do Calvário. A oração de Jesus foi ter sua vida poupada para que não
morresse ali no Jardim Getsêmani. Ele estava destinado a morrer na cruz do
Calvário para tirar os pecados do mundo.
O que aconteceu no Jardim Getsêmani? Pelo que já vimos, é
claro que os poderes das trevas e mesmo a morte estavam prontos a tirar a vida
de Jesus ali mesmo naquela hora. Em Mateus 26.38 lemos: "Então, lhes
disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai
comigo". Marcos 14.34 revela: "...E lhes disse: A minha alma
está profundamente triste até à morte..."
Mesmo que Jesus não tenha morrido fisicamente no Jardim
Getsêmani, Ele foi certamente obediente até à morte; Ele experimentou a morte
dupla de um pecador condenado! Ele foi "obediente até à morte e morte de
cruz" (Filipenses 2.8).
Quando Deus Não Responde
Esta análise da vida de oração de nosso Senhor antes de
Sua crucificação deveria nos ensinar que as respostas às nossas orações podem
nem sempre ser o mais importante. Podemos passar por derrotas, doenças,
tragédias e catástrofes. Mas o que realmente deve ser lembrado é que somos de
Cristo.
Creio que é por essa razão que, ao falar de provas e
tribulações, o apóstolo Pedro exclamou triunfante: "Nisso exultais,
embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por
várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais
preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor,
glória e honra na revelação de Jesus Cristo" (1 Pedro 1.6-7).
Por Arno
Froese e Dieter Steiger -http://www.chamada.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário