1. Esta
bem-aventurança está na contramão dos valores do mundo – O mundo rejeita os
valores do Reino de Deus. A humanidade pensa em termos de força, de poderio
militar, bélico, econômico, político. Quanto mais agressivo, mais forte. Esse é
o pensamento do mundo. Jesus, porém, diz que não são os fortes e os arrogantes
que são felizes; nem são eles que vão herdar a terra, mas os mansos. Ser
cristão é ser totalmente diferente. Somos uma nova criatura. Temos um novo
nome, uma nova vida, uma nova mente, um novo Reino.
2. O
pregador frustra as expectativas do seu povo – Os judeus subjugados pelos
romanos desde 63 a.C., esperavam um Messias político, guerreiro, que
implantasse seu Reino pela força. Havia quatro grupos em Israel: 1) Os fariseus
– eram os religiosos conservadores; eles queriam um Messias milagroso; 2) Os
saduceus – eram os liberais; eles queriam um Messias materialista; 3) Os
essênios – eram os místicos que viviam nas cavernas de Qumran, perto do Mar
Morto; eles queriam um Messias monástico; 4) Os zelotes – eram os ativistas que
queriam se insurgir contra Roma; eles queriam um Messias militar. Os próprios
apóstolos pensaram num Reino político (At 1:6). Mas Jesus veio com outra
proposta e o povo disse: Não queremos esse Messias. Fora com ele. Crucifica-o.
I.
O QUE NÃO SIGNIFICA SER MANSO
1. Ser manso não é um atributo natural
A mansidão não é apenas uma boa índole, uma pessoa
educada socialmente. Não apenas algo externo, convencional, mas uma atitude
interna, uma obra da graça no coração, fruto do Espírito. Spurgeon dizia que
“ser manso não é virtude, é graça”. Ninguém é naturalmente manso. Só aqueles
que reconhecem que nada merecem diante de Deus e choram pelos seus próprios
pecados, podem ser mansos diante de Deus e dos homens.
2. Ser manso não é ser mole ou ficar impassivo diante dos
problemas
Ser manso não é ser tímido, covarde, medroso, fraco,
indolente. As pessoas mansas foram profundamente vigorosas e enérgicas. Elas
tiveram coragem para se posicionar com firmeza contra o erro. Elas enfrentaram
açoites, prisões e a própria morte por seus posicionamentos. Os mártires foram
pessoas mansas.
Jesus era manso e humilde de coração, mas ele usou o
chicote para expulsar os vendilhões do templo e teve coragem para morrer numa
cruz, em nosso lugar.
3. Ser manso não significa manter a paz a qualquer preço
Ser manso não é ser conivente, ficar em cima do muro,
tentar agradar a gregos e troianos, ser neutro, viver sem cor, sem sal, sem
sabor, sem opinião própria. Ser manso não é ser passivo, indeciso.
4. Ser manso não é apenas controle emocional externo
Há pessoas que conseguem manter a calma, o domínio
próprio diante de situações adversas, mas não conseguem abrandar as chamas da
alma. São como um vulcão que estão sempre em ebulição por dentro. Elas não
explodem, mas vivem cheias de fogo por dentro. Elas são apenas aparentemente
calmas. Elas mantém as aparências diante dos homens, mas não são calmas aos
olhos de Deus. Elas não falam mal, mas desejam mal. Elas não fazem o mal, mas
alegram-se intimamente com o fracasso dos seus inimigos.
II.
O QUE SIGNIFICA SER MANSO
1. Uma pessoa mansa é submissa à vontade de Deus
Uma pessoa mansa não se rebela contra Deus, nem murmura.
Ela aceita a vontade Deus de bom grado. Ela diz como Jó: “temos recebido o bem
de Deus, porventura, não receberíamos também o mal?”.
Uma pessoa mansa é como Paulo, sabe viver contente em
toda e qualquer situação. Ela dá sempre dando graças a Deus, sabendo que todas
as coisas cooperam para o seu bem.
2. Uma pessoa mansa está debaixo do controle de Deus
O manso é aquele que foi domesticado. A palavra manso era
empregada para descrever um animal domesticado. Um potro selvagem causa uma
destruição. Um potro domado é útil. Uma brisa suave refresca e alivia. Um
furacão mata. O manso morreu para si mesmo. Ele foi domesticado pelo Espírito.
A mansidão é fruto do Espírito. Ele está sob autoridade e sob o controle. Ele
obedece as rédeas.
O manso é aquele que tem a força sob controle. Ele tem
domínio próprio. Mais forte é o que domina o seu espírito do que aquele que
conquista uma cidade.
O manso é aquele que não reinvindica os seus próprios
direitos. Jesus, sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus.
O manso é aquele que está disposto a sofrer o dano. Como
Paulo escreveu aos coríntios, numa demanda entre irmãos, ele está pronto a
sofrer o dano em vez de buscar levar vantagem.
3. Uma
pessoa mansa reconhece diante dos homens aquilo que ela reconhece diante de
Deus
Não temos nenhuma dificuldade de fazermos uma oração de
confissão e dizer: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, porque eu sou um mísero
pecador!”. Nós admitimos isso. Confessamos isso. Mas se alguém vier nos chamar
de pecador, nós logo rechaçamos. Não admitimos ser diante dos homens aquilo que
admitimos ser diante de Deus. Não aceitamos que os homens nos tratem da mesma
maneira que admitimos ser para Deus.
O manso é aquele que não luta para defender sua própria
honra. Aquele que já está no chão não tem medo da queda.
Ilustração: uma mulher mandou uma carta ao irmão André
fazendo-lhe pesadas acusações. Ele chorou e pediu a Deus graça. Então, sentou e
escreveu uma carta: Minha irmã, eu concordo com você. Eu sou muito pior do que
você descreveu. Se você me conhecesse como Deus me conhece, certamente você
teria sido muito mais forte nas suas acusações.
4. Uma pessoa mansa suporta injúrias
Uma pessoa mansa não é facilmente provocada. Um espírito
manso não se inflama facilmente. Davi dá o seu testemunho: “Armam ciladas
contra mim os que tramam tirar-me a vida; os que me procuram fazer o mal dizem
cousas perniciosas e imaginam engano todo o dia. Mas eu, como surdo, não ouço
e, qual mudo, não abro a boca” (Sl 38:12,13).
Há algumas coisas que se opõem à mansidão:
a) Precipitação – Uma pessoa precipitada, que fala antes
de pensar, que age antes de refletir, que se destempera facilmente e perde o
controle emocional não é uma pessoa mansa. Basílio comparava a ira à embriaguez
e Jerônimo dizia que há mais pessoas embriagadas de paixão iracunda do que de
vinho. A ira descontrolada suspende o uso da razão. Muitas pessoas são frias na
expressão da sua fé, mas vivem em estado de ebulição quando se trata da ira.
b) Maldade – Uma pessoa mansa não faz o mal, não fala mal
nem deseja o mal. A Bíblia diz que aquele que odeia o seu irmão é assassino (1
Jo 3:15) e quem o chamar de tolo está sujeito ao fogo do inferno (Mt 5:22).
c) Vingança – A Bíblia proíbe a vingança: “Não vos
vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim
me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”. A vingança é uma
usurpação de uma ação exclusiva de Deus.
d) Falar mal – A Bíblia nos ordena a não falar mal uns
dos outros. O pecado que mais Deus odeia é da língua que semeia contenda entre
os irmãos. Tiago 3 diz a língua tem o poder de dirigir (freio e leme), o poder
de destruir (fogo e veneno). Muitas pessoas não tiram a vida do próximo, mas
destroem sua reputação com a língua. A língua torna-se um mundo de iniquidade,
indomável e incoerente.
5. Uma pessoa mansa perdoa as injúrias
Jesus disse: “E, quando estiverdes orando, se tendes
alguma cousa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as
vossas ofensas” (Mc 11:25). Não adianta orar sem perdoar. Nós lembramos mais as
injúrias do que as benevolências.
Ilustração: Certa mulher foi visitada pelo seu pastor no
leito da morte: “Você está pronta a perdoar o seu inimigo? Ela respondeu: Eu
não vou perdoá-lo, ainda sabendo que por isso, estou indo para o inferno.”
Jesus é o nosso modelo de homem manso. “Pois ele, quando
ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas
entrega-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2:23).
Como deve ser o perdão?
a) Real – Deus não mostra o seu perdão para nós e guarda
o nosso pecado para si. Ele apaga os nossos pecados como a névoa e os lança no
mar e deles nunca mais se lembra. Deus perdoa e esquece. Deus perdoa e não
cobra mais. Deus perdoa e nunca mais lança o nosso pecado em nosso rosto. É
assim que devemos perdoar, como Deus perdoa, de todo o coração.
b) Pleno – Deus perdoa todos os nossos pecados. “Ele
perdoa todas as nossas iniquidades” (Sl 103:3). Se você é manso, você perdoa
todas as injúrias. Uma pessoa que não é mansa, perdoa algumas ofensas, mas
retém outras. Isso é apenas um meio perdão, isso não é completo perdão. Se Deus
fizesse isso com você, como você estaria agora?
c) Constante – A Bíblia diz que Deus é rico em perdoar
(Is 55:7). Até quantas vezes devemos perdoar? Até sete vezes? Não, até setenta
vezes sete. Não há cristianismo sem perdão. Se você não perdoa você não pode
adorar, ofertar, orar, ser perdoado. Se você não perdoa você não tem paz, fica
doente, dominado, atormentado. Se você não perdoa o seu irmão, não é apenas a
ele que você está ferindo, mas está ferindo também a Deus. Quem vive sem
mansidão, morre sem misericórdia.
6. Uma pessoa mansa recompensa o mal com o bem
Amar os inimigos, fazer o bem a eles e orar por eles é a
marca de uma pessoa mansa (Mt 5:44). A Bíblia diz que se o nosso inimigo tiver
fome, demos dar ele de comer (Rm 12:20). O apóstolo Pedro diz: “não pagando mal
por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para
isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1 Pe 3:9).
Pagar o mal com o mal é agir como um selvagem. Pagar o
bem com o mal é agir como um demônio. Mas pagar o mal com o bem é agir como um
cristão, como uma pessoa mansa.
Davi dá o seu testemunho: “Pagam-me o mal pelo bem, o que
é desolação para a minha alma. Quanto a mim, porém, estando eles enfermos, as
minhas vestes eram pano de saco; eu afligia a minha alma com jejum e em oração
me reclinava sobre o peito” (Sl 35:12-13).
III.
RAZÕES PARA SERMOS MANSOS
1. Nós devemos ser mansos porque Jesus, o nosso supremo
modelo foi manso
Jesus é o homem perfeito. E ele foi manso e humilde de
coração. Quando ele era ultrajado, não revidava com ultraje. As palavras de
seus inimigos foram mais amargas do que o fel que lhe deram na cruz, mas as
palavras de Cristo foram mais doces do que o mel, foram palavras de perdão e
salvação.
Ele orou e chorou pelos seus inimigos. Ele perdoou os
seus inimigos e nos convida: “Aprendei de mim, porque sou manso” (Mt 11:29).
Cristo não nos exorta a aprender com ele a fazer
milagres, a abrir os olhos aos cegos, a levantar os mortos, mas ele nos exorta
a aprendermos com ele a sermos mansos. Se nós não imitarmos sua vida, não
seremos salvos pela sua morte.
2. Nós devemos ser mansos porque os servos de Deus do
passado também foram mansos
a) Abraão – Abraão abriu mão dos seus direitos e deu a Ló
a oportunidade de escolher primeiro. Uma pessoa mansa abre mão, não briga pelos
seus próprios direitos.
b) Moisés – Números 12:3 diz que Moisés foi o homem mais
manso da terra. Quantas injúrias ele sofreu! Quando o povo de Israel murmurava
contra ele, em vez de se irar contra o povo, ele caia de joelhos em oração pelo
povo (Ex 15:24,25). As águas de mara não foram tão amargas como o espírito do
povo, mas Moisés reage não com amargura, mas com oração.
c) Davi – Saul perseguia loucamente a Davi, e este,
algumas vezes, teve a vida de Saul em suas mãos, mas ele não se vingou (1 Sm
26:7,12,23). Simei amaldiçoou Davi e este não permitiu que sua vida fosse
tirada (2 Sm 16:11). Um homem manso não defende sua própria causa, sua própria
reputação.
3. A mansidão é o caminho para derreter e conquistar o
coração dos próprios inimigos
A palavra dura suscita a ira, mas a resposta branda
(mansa), desvia o furor (Pv 15:1).
A brandura de Davi com Saul, derreteu seu coração mais do
que a bravura de Davi (1 Sm 24:16,17).
A mansidão é como ajuntar brasas vivas na cabeça do seu
inimigo. A ira faz um amigo tornar-se inimigo, mas a mansidão, faz um inimigo
tornar-se amigo.
IV. QUAL É O RESULTADO DA MANSIDÃO
1. Uma profunda e gloriosa felicidade
Jesus diz que os mansos são felizes, bem-aventurados. A
palavra Macarios era usada pelos gregos para descrever a felicidade dos deuses.
É uma felicidade plena, completa, independente das circunstâncias, baseada num
relacionamento íntimo e permanente com o Deus vivo.
2. A herança da terra no tempo
Mesmo sendo estrangeiro na terra (Hb 11:37), os mansos
são aqueles que herdam a terra. Eles comem o melhor dessa terra. O ímpio tem a
posse temporal da terra, mas o manso usufrue as benesses da terra.
Nesse sentido, os mansos já são herdeiros da terra, na
vida presente. Ele é uma pessoa satisfeita. Sente-se contente. Ele nada tem,
mas possui tudo. Paulo diz: “entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas
enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 6:10). Paulo diz:
“Eu aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Eu tudo posso naquele
que me fortalece” (Fp 4:11-13).
O manso é cidadão do céu. O manso é filho de Deus. O
manso é herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. Do Senhor é a terra e a sua
plenitude. Tudo que pertence ao Pai, pertence ao filho (1 Co 3:21-23). Os
mansos são os verdadeiros herdeiros de tudo o que é do Pai. Receberemos a
herança original de domínio sobre a terra que Deus deu a Adão. É a reconquista
do paraíso.
Eles conquistam a terra não pelas armas, não pela força,
mas por herança. O manso herda as bênçãos da terra. O ímpio pode ter abundância
de dinheiro, mas o manso tem abundância de paz (Sl 37:11). O ímpio não tem o
que parece ter. Ele tem propriedades, terras, mas não pode levar nada, não
herda nada. Mas o manso, mesmo desprovido agora, tem a herança, a posse eterna
de tudo o que é do Pai.
3. A herança da nova terra e do novo céu na eternidade
O manso desfrutará da terra restaurada, redimida do seu cativeiro.
Ele habitará no novo céu e na nova terra (Ap 21:2-3). Ele reinará com Cristo
sobre a terra.
O manso não apenas herda a terra, mas também o céu. O
manso tem a terra apenas como a sua casa de inverno, mas tem no céu uma mansão
permanente, eterna, casa feita não por mãos, eterna no céu.
Rev. Hernandes Dias Lopes
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