sexta-feira, 8 de abril de 2011

Competência no Ministério

"Aqueles que se gloriam sobre si mesmos geralmente se revestem de uma aparência de humildade"


"Tal é a confiança que temos diante de Deus, por meio de Cristo. Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2Co 3.4-6)

O ministério do evangelho é como o desfile vitorioso de Cristo diante do mundo (2.4). Através dele Deus espalha o conhecimento de seu Filho como uma fragrância. É um aroma muito atrativo para aqueles que crêem, mas um cheiro da morte para aqueles que rejeitam a mensagem. A pregação do evangelho, portanto, é um acontecimento momentoso. Contudo, o ministério não é exaurido pela pregação, mas é um estilo de vida que se esforça por levar avante o evangelho em todos os lugares e estabelecer o reino dos céus em todos os corações.

Ainda que todos os cristãos devam participar disso, ele é claramente uma ocupação diferente de qualquer outra. Como Paulo disse: “Mas quem está capacitado para tanto?” A resposta é que ninguém está capacitado para tal tarefa em si mesmo, mas um crente pode tornar-se competente no ministério do evangelho quando Deus o ensina e capacita. Nossa passagem oferece os seguintes pontos como guia para o nosso pensamento.

A competência é relevante. Algumas pessoas se convencem de que ações espirituais são somente éticas, de tal modo que as qualidades essenciais do servo de Deus consistem de santidade, sinceridade, zelo e coisas semelhantes. Ainda que essas sejam cruciais, sem as quais alguém seria barrado para o ministério, a competência também é uma qualidade necessária, e não deixar de ser espiritual considerar isso. Um ministro competente executa a sua obra com excelência, e ao longo de uma vida de santidade e uma atitude de caridade, e traz honra ao Senhor Jesus Cristo.

A competência é demonstrada pelo poder divino, e não pela aprovação humana. Deus endossa uma pessoa e a sua obra com o selo do Espírito Santo. Uma das coisas mais difíceis de se fazer no ministério é convencer os crentes a pararem de pensar como o mundo. Uma das razões é que eles continuam de amores com o mundo e se agarram a tudo que se refere a ele com uma obstinação sobre-humana. A outra razão é o mesmo é verdade com a maioria dos ministros, de modo que existem muito poucos que saibam falar sobre isso.

Paulo escreve: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente” (Rm 12.2). Isso se aplica à competência no ministério. Para o mundo, a competência não vem do dom divino, mas de formação institucional. Ela é vista não na vida e obra de alguém, mas num diploma. O mundo acha que o importante não é o que você sabe, mas quem você conhece. Não o quanto você estudou, mas onde você estudou. Admitidamente, até alguns descrentes não têm adotado inteiramente essa maneira de pensar. Mas ela é muito comum entre os crentes. A Bíblia não ensina isso; eles aprenderam do mundo.

Quando esse tipo de pensamento é trazido da sociedade não cristã para a cultura cristã, o produto é como a hipocrisia assassina dos fariseus incompetentes. Eles tinham todas as credenciais e autorizações humanas, mas isso nada tinha a ver com Deus e a sua verdade – eles estavam alicerçados em um acordo de mútuo louvor. Então, quando um homem apareceu para expô-los, os fariseus o mataram. Vou chamar você de o Rei Netuno – e emitir um certificado para ser exibido – desde que você me chame de o Mestre de Júpiter. É assim que o mundo funciona, e a igreja segue o seu exemplo. Mas Netuno não é seu, a menos que Deus lhe conceda. O meu certificado nada significa, mesmo que você produzisse algum tipo de teste para eu realizar a fim de obtê-lo. Você não passou no teste de Deus.

Os coríntios eram atormentados por falsos mestres e falsos apóstolos, que aparentemente tentavam solapar Paulo criticando-o de um ponto de vista humano. Provavelmente diziam que Paulo não era suficientemente brando. Que lhe faltava carisma, presença e força. E que ele não tinha as cartas de recomendação apropriadas. Um aceno de cabeça do irritado Elias é mais valioso que qualquer graduação em seminário ou certificado de ordenação, ou uma carta de recomendação da parte de algum pastor célebre. Elias enfrentou centenas de falsos profetas e manejou o próprio poder do céu, enquanto doutor fulano de tal se curva diante da sogra em nome do amor cristão. Quando iremos parar de cobiçar louvores sem valor? E até Elias tinha as suas faltas.

De qualquer modo, Paulo ensina os coríntios a parar de julgar segundo os parâmetros do mundo. Ele sem dúvida tem uma carta de recomendação – os coríntios convertidos era a sua carta da parte de Cristo. Não foi escrita com tinta, mas com o Espírito de Deus, e não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos (3.3). Ainda que os coríntios tivessem muito o que melhorar, o ministério do apóstolo efetuou neles genuína e permanente mudança, algo que não poderia ser operado pelo poder humano. Essa carta não vem de instituição ou autoridade humanas, e nem está sujeita a autoridade do homem. O homem não tem o poder de produzir e nem de a tornar nula. O próprio Espírito Santo a autorizou. Isso ele fez de acordo com a sua própria vontade, porque ninguém poderia ter lhe forçado a mão. E ninguém a poderia ter escrito ou imprimido – ela foi escrita nos corações humanos pelo poder divino.

Competência é um dom de Deus. Paulo demonstra verdadeira competência no ministério, mas a fonte de sua competência não está nele mesmo. Ele explica: “Não que sejamos competentes em nós mesmos para afirmar qualquer coisa por nós mesmos, mas a nossa competência vem de Deus”. E novamente: “a nossa competência vem de Deus”. O fator decisivo está sempre além da contribuição do homem. Mesmo se Deus usar homens para conferir essa competência, nenhum treinamento ou endosso humanos podem conferir o poder e efeito do céu que o ministério do evangelho requer. Deus usa homens para pregar o evangelho, mas ninguém crê a menos que o Espírito Santo aja diretamente nos corações daqueles que ouvem a mensagem. Da mesma forma, no treinamento e aperfeiçoamento de ministros do evangelho, existe com frequência – nem sempre – algum envolvimento humano, mas nenhum homem pode capacitar outro homem nas coisas espirituais. A competência vem de Deus.

Esse é um tema recorrente nas cartas de Paulo. Ele quer ensinar aos seus leitores uma nova maneira de pensar, uma maneira que esteja de acordo com os poderes celestiais, e não com os padrões do mundo. Dessa forma, ele escreve antes: “De fato, já tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus que ressuscita dos mortos (1.9). Então em 4.7: “Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provem de Deus, e não de nós”. E há a passagem familiar: “Portanto eu me gloriarei ainda mais nas minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte” (12.9 e 10).

Ele está ciente de como o mundo pensa: “Não temos a pretensão de nos igualar ou nos comparar com alguns que se recomendam a si mesmos. Quando eles se medem e se comparam consigo mesmos, agem sem entendimento” (10.12). Essa crítica é importante pois ainda é a forma como os cristãos pensam e julgam a competência em si mesmos e nos outros. Paulo diria a eles: “Vocês observam apenas a aparência das coisas” (10.7). Isso é o que ele quer dizer quando escreve, “pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (10.3 e 4). Ele não está se referindo às armas espirituais em algum sentido místico, mas está fazendo um contraste com “os padrões deste mundo” (v. 2). Ironicamente, os crentes muitas vezes usam os padrões deste mundo para avaliar a competência no uso das armas espirituais! O apóstolo força uma grande mudança em nosso pensamento.

A competência é uma base para a confiança. É possível um cristão saber se ele é competente e reconhecer isso. Não há nada de errado com ele se for preciso e realista quanto às suas habilidades. A humildade não consiste em negar a competência, mas no admitir que ela vem de Deus e que outras pessoas também a podem possuir pela graça dele.

Existem aquele que pensam que qualquer reconhecimento de competência tem as suas raízes no orgulho, e que a magnitude da arrogância está em proporção direta com a magnitude da reivindicação. Contudo, isso sugere que eles associam a competência apenas consigo mesmos, que eles pensam que nós somos sempre a fonte da nossa competência, de modo que a competência seja sempre para o nosso louvor. Assim, em realidade, é a atitude deles que brota da arrogância e do egocentrismo. Isso é o que os falsos mestres e falsos apóstolos fazem, como mencionado nas cartas de Paulo. Eles se medem por si mesmos, e então se gloriam quanto a si mesmos.

Aqueles que se gloriam sobre si mesmos geralmente se revestem de uma aparência de humildade. Visto que a confiança deles está baseada na opinião que eles têm de si mesmos, e visto que o mais iludido egomaníaco se dá conta que ele tem limites, essas pessoas reconhecem os seus limites. Mas o que eles pensam que têm, eles pensam que o têm por si mesmos. O que acontece quando alguém mais confiante aparece? Eles pensam que deve ser porque tal pessoa acha que tem mais em si mesmo e por si mesmo. Assim, nesse modo de pensar, uma falta de confiança se torna um sinal de humildade e a coragem se torna um sinal de arrogância. Não é possível alguém ser confiante porque confia nos ilimitados recursos de Deus e em sua graça para o socorrer em tempo de necessidade? Mas eles não pensam assim, pois agem pelos padrões do mundo, e Deus tem pouquíssimo espaço no pensamento deles.

Existe uma glorificação apropriada que equivale a um ato de adoração e ministério, e é a seguinte: ostentar-se sobre o poder e a graça de Jesus Cristo, não à parte de nós, mas em nós e por nós. Essa maneira de pensar se aplica à teologia como um todo, desde a justificação pela fé até à competência no ministério. Nada somos em nós mesmos, mas não somos deixados sozinhos. Jesus Cristo está conosco pelo seu Espírito. Ele nos faz ministros competentes da nova aliança. Isso honra as grandíssimas e preciosas promessas do evangelho, e nos salva do orgulho e da falsa humildade.

Tradução: Claudino Batista Marra (marrajunior1@hotmail.com).
Fonte: http://www.sepal.org.br/

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