terça-feira, 19 de abril de 2011

O Jejum: entre o extremismo e o exibicionismo

Há pessoas extremistas quanto a observação do jejum, não praticam e ainda debocham dos que jejuam; outras, à semelhança dos fariseus, tocam trombeta quando jejuam. Jesus condena o exibicionismo dos fariseus para impressionar as pessoas e mostrar que eram mais espirituais do que os outros. Creio que devemos proceder conforme a recomendação de Jesus em Mateus 6:16-18.

Essa semana, denominada pelo catolicismo de “Semana Santa” tomei como propósito abordar temas específicos referentes a rituais normalmente praticados neste período pelos cristãos. Desta feita abordarei sobre o JEJUM.

O jejum é a abstinência total ou parcial de alimentos por um período definido e propósito específico. Tem sido praticado por quase todas as religiões em todas as nações e em todas as épocas. Podendo ser praticado com finalidade espiritual e/ou medicinal, visto que o jejum traz tremendos benefícios físicos com a desintoxicação que produz no corpo. Porém vamos nos ater ao jejum bíblico.

Muitos cristãos hoje desconhecem o que a Bíblia diz acerca do jejum. Ou receberam um ensino distorcido ou não receberam ensinamento algum sobre este assunto. Creio que a Igreja de hoje vive dividida entre dois extremos: aqueles que não dão valor ao jejum e aqueles que se excedem em sua ênfase sobre ele. Creio que Deus quer despertar-nos para a compreensão e prática deste princípio que, sem dúvida, é uma arma poderosa para todo cristão.

Não há regras fixas na Bíblia sobre quando jejuar ou qual tipo de jejum praticar, isto é algo pessoal. Mas a prática do jejum, além de ser recomendação bíblica, traz consigo alguns princípios que devem ser entendidos e seguidos.

I - A BÍBLIA ORDENA O JEJUM ?

Não. No Velho Testamento, na lei de Moisés, os judeus tinham um único dia de jejum instituído: O do Dia da Expiação (Lv.23:27), “Ora, o décimo dia desse sétimo mês será o dia da expiação; tereis santa convocação, e afligireis as vossas almas; e oferecereis oferta queimada ao Senhor. Nesse dia não fareis trabalho algum; porque é o dia da expiação, para nele fazer-se expiação por vós perante o Senhor vosso Deus”. Ou seja, um dia de consagração para o povo hebreu.

Esse dia ficou conhecido como: “O dia do jejum" “Entra pois tu e, pelo rolo que escreveste enquanto eu ditava, lê as palavras do Senhor aos ouvidos do povo, na casa do Senhor, no dia de jejum; e também as lerás aos ouvidos de todo o Judá que vem das suas cidades”. Jeremias,.36:6.

Paulo menciona-o apenas como "o jejum" (At.27:9). Mas tanto no Velho quanto no Novo Testamento não há uma única ordem o Jejum. Tanto é que os discípulos de João Batista indagaram a Jesus porque seus discípulos não jejuavam. Mateus, 9:14-15: “Então vieram ter com ele os discípulos de João, perguntando: Por que é que nós e os fariseus jejuamos, mas os teus discípulos não jejuam?” E a resposta do Mestre foi a seguinte: “Podem porventura ficar tristes os convidados às núpcias, enquanto o noivo está com eles? Dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e então hão de jejuar”. O jejum é algo muito pessoal.

No entanto Jesus esperava que jejuássemos e recomendou: "Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará." (Mt.6:16-18).

Embora Jesus não estivesse mandando jejuar, Ele aguardava que seus seguidores jejuassem. Ele os instruiu até na motivação correta que se deve ter ao jejuar. E quando disse que o Pai recompensaria a atitude correta do jejum, mostrou que tal prática produz resultados.

O próprio Jesus praticou o jejum, Os líderes da Igreja também jejuavam. Registros históricos dos pais da igreja também revelam que o jejum continuou sendo observado como prática dos cristãos muito tempo depois dos apóstolos. O jejum, é parte de nossas vidas e praticado de forma equilibrada, dentro do ensino bíblico, fortalece o cristão, como você vai ler a seguir

Mesmo que o Senhor Jesus tenha jejuado por quarenta dias e quarenta noites no deserto e em outras ocasiões, devemos reconhecer que Ele e seus discípulos não observavam o jejum dos judeus de seus dias (exceto o do dia da Expiação). Era costume dos fariseus jejuar dois dias por semana (Lc.18:12); mas Jesus e seus discípulos não o faziam. Por isso, os discípulos de João Batista questionaram Jesus acerca do jejum.

O Mestre mostrou que não era contra o jejum, e afirmou de sua ascensão para o céu, os discípulos haveriam de jejuar. Jesus não se referiu ao jejum somente para os dias entre sua morte e ressurreição. Contudo, ele deixou bem claro que a observação do jejum conforme a prática judaica, não era do agrada de Deus. A motivação estava errada, as pessoas jejuavam para provar sua religiosidade e espiritualidade, e por isso faziam em praça pública, saiam anunciando pelas ruas que estavam jejuando. Ou seja, davam publicidade a algo muito pessoal. Jesus ensinou que o jejum deve ser feito sem alarde.

O jejum pode ser uma prática vazia se não for feito de maneira correta. Isto aconteceu com o povo no Antigo Testamento, quando eles começaram a indagar: "Por que jejuamos nós, e não atentas para isto? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?" (Is.58:3a). A impressão que dá é que devido a observação do jejum, Deus deveria ouvi-los e atendê-los conforme desejavam. Mas Deus respondeu que eles estavam jejuando de maneira errada, tentando impressionar Deus e contendendo com as pessoas: "Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e para rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto." (Is.58:3b,4).

De acordo com o texto se o jejum fosse observado de forma correta, Deus ouviria o clamor do povo.

II - O PROPÓSITO DO JEJUM

O escritor Kenneth Hagin comenta acerca do jejum: "O jejum não muda Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois de seu jejum. Mas, jejuar mudará você. Vai lhe ajudar a manter-se mais suscetível ao Espírito de Deus". O jejum não tornará Deus mais bondoso ou misericordioso para conosco, ele está sempre atento as nossas necessidades e pronto a romper com as nossas barreiras e limitações da carne. Porém, ao jejuarmos nós nos aproximamos de Deus; e o jejum deixará nosso espírito atento, pois mortifica a nossa carne (desejos) e aflige nossa alma.

Jesus deixou-nos um ensino precioso acerca disto quando falava sobre o jejum: "Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos." (Mc.2:22).

O odre era um recipiente feito com couro de animais, devidamente preparado, no entanto com o passar do tempo o couro envelhecia e ressecava. O vinho era o suco extraído da uva que fermentava naturalmente dentro do odre. E quando se fazia o vinho novo, era sábio colocá-lo no odre (recipiente de couro) que não arrebentasse na hora em que o vinho estivesse fermentando. O melhor recipiente era o odre novo.

Com essa ilustração Jesus ensinou que o vinho novo que Ele traria (o Espírito Santo) deveria ser colocado em odres novos, e o odre aqui representa o nosso corpo. A Bíblia está dizendo com isto que o jejum tem o poder de "renovar" nosso corpo. A Escritura ensina que a carne milita contra o espírito, e a melhor maneira de receber o vinho, o Espírito, é dentro de um processo de mortificação da carne.

Algo interessante é que os judeus costumavam restaurar os odres velhos. Para restaurá-los, eles mergulhavam o odre velho numa vasilha com água e depois deixavam um tempo levavam ao fogo até amolecer. Em seguida aplicavam óleo de oliva até que o odre tinha maleabilidade. Ou seja, até que ele estava pronto para ceder a pressão do vinho novo sem estourar.

Muitos cristãos, resistentes a observação das boas práticas bíblicas, se permitirem ser levados ao fogo do Espírito Santo, brevemente estarão orando fervorosamente e jejuando para se fortalecer no Senhor. Glória a Deus! Eu passei por essa experiência e hoje sou feliz.

Estou bem certo que principal propósito do jejum é mortificar a carne, e com certeza nos fará mais sensíveis ao agir do Espírito Santo. Há outros benefícios que decorrem dessa maravilhosa experiência, mas mortificar a carne é a essência do jejum. Por isso, normalmente eu aconselho as pessoas que tomam o propósito de jejuar, mesmo em horário de trabalho ou alguma atividade, abstenha-se de programas de televisão, de má conversação e de tudo aquilo que nos impede a comunhão com Deus. Jejum é tempo de consagração. Vamos aproveitar para orar, ler a Bíblia, ouvir músicas de consagração...

A resposta às orações flui melhor quando jejuamos porque através desta prática estamos liberando nosso espírito na disputada batalha contra a carne, e por isso algumas coisas acontecem no mundo espiritual.

Por exemplo, a fé é do espírito e não da carne; ao jejuar estamos removendo o entulho da carne e liberando nossa fé para se expressara Deus. Quando Jesus disse aos discípulos que não puderam expulsar um demônio por falta de jejum (Mt.17:21), ele não limitou o problema, mas alertou sobre a falta de fé, (Mt.17:19,20) Segundo o Mestre o fator decisivo do fracasso dos discípulos foi a falta de fé. E acrescentou: “... esta casta de demônios não se expulsa senão à força de oração e de jejum”. O jejum ajuda a liberar a fé! O que nos dá vitória sobre o inimigo é o sacrifício de Jesus na cruz e a autoridade delegada em seu nome. O jejum em si não nos faz vencer, mas libera a fé para o combate e nos fortalece na missão delegada por Jesus.

Apesar do propósito central do jejum ser a mortificação da nossa carne, leiamos alguns exemplos bíblicos motivados pela observação do Jejum.

Propósitos do Jejum no Antigo Testamento:

1. Consagração – O voto do nazireado envolvia a abstinência/jejum de determinados tipos de alimentos (Nm.6:3,4);

2. Arrependimento de pecados – Samuel e o povo jejuando em Mispa, como sinal de arrependimento de seus pecados (I Sm.7:6, Ne.9:11);

3. Luto – Davi jejua em expressão de dor pela morte de Saul e Jônatas, e depois pela morte de Abner. (II Sm.1:12 e 3:35);

4. Aflições – Davi jejua em favor da criança que nascera de Bate-Seba, que estava doente, à morte (II Sm.12:16-23); Josafá apregoou um jejum em todo Judá quando estava sob o risco de ser vencido pelos moabitas e amonitas (II Cr.20:3);

5. Busca de Proteção – Esdras proclamou jejum junto ao rio Ava, pedindo a proteção e benção de Deus sobre sua viagem (Ed.8:21-23); Ester pede que seu povo jejue por ela, para proteção no seu encontro com o rei (Et.4:16);
6. Na enfermidade – Davi jejuava e orava por outros que estavam enfermos (Sl.35:13);
7. Intercessão – Daniel orando por Jerusalém e seu povo (Dn.9:3, 10:2,3)

Jejum no Novo Testamento

1. Na preparação para a Batalha Espiritual – Jesus alertou que determinadas castas só sairão com oração e jejum, pois trazem maior revestimento e autoridade (Mt.17:21);
2. Estar com o Senhor – Ana não saía do templo, orando e jejuando freqüentemente (Lc.2:37);
3. Prepara para o Ministério – Jesus só começou seu ministério depois de ter sido cheio do Espírito Santo e se preparado em jejum no deserto Mateus, 4:1-11.
A Igreja primitiva praticava o jejum em diversas situações:

1. Ministrar ao Senhor – Os líderes da igreja em Antioquia jejuando apenas para adorar ao Senhor (At.13:2);

2. Enviar missionários ou escolher alguém para a obra – Na hora de impor as mãos e enviar pessoas comissionadas (At.13:3);

3. Consagrar presbíteros – Além de impor as mãos com jejum sobre os enviados, o faziam também sobre os que recebiam autoridade de governo na igreja local, o que revela que o jejum era um princípio praticado nas ordenações de ministros (At.14:23).

III - DIFERENTES FORMAS DE JEJUM

1. Jejum PARCIAL. Normalmente o jejum parcial é praticado em períodos maiores ou quando a pessoa não tem condições de se abster totalmente do alimento (por causa do trabalho, por exemplo). Lemos sobre esta forma de jejum no livro de Daniel: "Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram em minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que se passaram as três semanas." (Dn.10:2,3).

O profeta absteve-se de carne e alimentou-se apenas de legumes e evitou a bebida alcoólica. A Bíblia registra que Daniel muito aflito dedicou-se à oração e jejum por três semanas. Ao fim deste período, um anjo do Senhor veio a ele e lhe trouxe uma revelação tremenda. Declarou-lhe que desde o primeiro dia de oração o profeta fora ouvido. Daniel:10:12.

2. Jejum NORMAL. É a abstinência de alimentos, com ingestão de água. Foi a forma que nosso Senhor adotou ao jejuar no deserto. "Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome." (Mt.4:2.)

3. Jejum TOTAL. É abstinência de tudo, inclusive de água. Na Bíblia encontramos poucas menções de ter alguém jejuado sem água, e isto dentro de um limite: no máximo três dias. A água não é alimento, e nosso corpo depende dela a fim de que os rins funcionem normalmente e as toxinas não se acumulem no organismo. Leia exemplos bíblicos. Ester, 4:16 (Quando o povo hebreu estava condenado à morte); e Atos, 9:9. Quando Paulo foi impactado pela revelação divina.

IV - A DURAÇÃO DO JEJUM

Quanto tempo deve durar um jejum? A Bíblia não determina regras, portanto cada um é livre para escolher quando, como e quanto jejuar.

Porém, a experiência nos revela que haverá períodos em que o Espírito Santo vai nos atrair para jejuar. Em outros momentos jejuaremos porque sentiremos necessidade de estar mais próximo de Deus; existe ocasiões que precisamos de revestimento de poder para vencermos uma batalhar de caráter pessoal; ou mesmo quando enfrentamos uma aflição ou enfermidade.
Pr. Lucioano Sabirá e Pr. Lúcio Freire textos biblicos: http://www.bibliaonline.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário